quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

TODOS CONTRA A IMPUNIDADE



  

Márcio Doti



A Justiça também tem a sua parcela de culpa na construção desta realidade imprópria para a vida dos brasileiros. Como poucas nações no mundo, temos uma Justiça Eleitoral, mas nem sendo específica para cuidar de eleições, ela consegue ser ágil como desejável. Há governadores que estão completando um ano de exercício de mandato e que, entretanto, respondem a ações eleitorais que não andam, apesar dos processos tratarem de cassação de mandatos pelos crimes de que são acusados. De 13 governadores que são processados, apenas três foram julgados pelos TREs. Os outros dez sequer foram julgados em primeira instância. E a lista inclui o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Beto Richa (PSDB-PR). Ainda respondem a ações eleitorais os governadores do Ceará, Piauí, Amazonas, Pará, Paraíba, Amapá e Mato Grosso do Sul.
É certo que não se pode culpar apenas a Justiça pela morosidade nos processos, embora seja fácil perceber que o dano ao interesse público é muito grande quando essas coisas acontecem. Mesmo levando-se em conta que o fato de alguém ser acusado por algum motivo não significa que seja culpado, cabe admitir que pelo menos parte desses governadores que enfrentam processos tem culpa e deveria pagar por ela. O caminho seria a condenação nos tribunais eleitorais, a confirmação no Superior Tribunal Eleitoral e até nas outras cortes superiores, todavia, também nessas casas, a demora gera impunidade que, muitas vezes, pode ser o exercício indevido de mandato por gente que deveria ser punida com rapidez. Não que se pretenda uma justiça precipitada pelo risco de se cometer injustiças, mas, sabe-se, por exemplo, de casos de prefeitos como o de Nova Lima, Cássio Magnani, que foi condenado em primeira instância e com essa sombra segue administrando uma da mais importantes cidades médias de Minas Gerais.
Parte da culpa por esses absurdos que compõem o quadro de uma sociedade atormentada por seus vícios cabe aos nossos legisladores, deputados e senadores que não conseguem aperfeiçoar as leis de modo que sejam claras e não permitam as brechas por onde escapam esses bandidos que agem nas sombras e conseguem prevalecer se esqueirando na escuridão das leis e das facilidades encontradas. Se já é grave o que acontece com as prefeituras, imagina o que significa manter nos cargos de governador pessoas que venceram, mediante artifícios e manobras ilegais. Leis mal feitas facilitam a vida dos que erram na disputa de uma eleição e também daqueles que se beneficiam da má aplicação das normas. Mas é inegável que dispondo de uma Justiça específica para cuidar das eleições, como não acontece com nações mais evoluídas e menos pobres do que a nossa, seria de se esperar um desempenho mais adequado à nossa democracia e mais compatível com o investimento feito pela sociedade brasileira.



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