sábado, 2 de janeiro de 2016

TEMPO PERDIDO - ACREDITAR NOS POLÍTICOS



  

José Eutáquio de Oliveira



Existe um tempo para acreditar em sonhos, utopias, quimeras, marias, antônias e veras. Existe um tempo para não crer em nada, sejam verdades, fé, religiões, promessas e novas eras. Existe um tempo para viver de paixão e tesão, supostos prenúncios do amor, da amizade e do nirvana. Existe um tempo para dar-se conta de que o tesão acaba no último trago do cigarro e que a paixão finda logo ali adiante – sem aviso prévio e com muita dor. Como também existe o tempo de saber que o amor e a amizade são madeiras fortes. Que só sobrevivem íntegras quando bem plantadas e regadas com as águas da sabedoria e da generosidade.

E lá vem ela. A felicidade a brincar comigo e a me provocar com seus cabelos louros, negros, ruivos ou pixains. Lá vem ela. De saias curtas, pernas longas, roliças, pele suave como tez de pêssego maduro, sorriso nos lábios. Lá vem ela. Juventude em flor, perfume de manacá, olhar de alegria que impregna de encantamentos e luares o lugar em que ela passa, o chão que ela pisa. E deixa em mim a certeza de que meu tempo passou. Lá vai ela. É bom assistir ao espetáculo que é vê-la desfilar beleza nas calçadas das avenidas e ruas da cidade.

Existe um tempo em que temos a certeza de que somos visíveis e a convicção de que somos ouvidos e levados em conta em tudo que fazemos. Por isso colorimos as vestes, pintamos nossos rostos, deixamos os cabelos se alongarem, gritamos discursos e canções e recitamos poemas de amor. Existe um tempo, porém, em que as
ilusões estão mortas. Tempo no qual descobrimos que somos mais um entre bilhões de seres humanos invisíveis como a maioria dos zilhões de universos e estrelas do universo. Tempo em que nos damos conta de que nossas vozes são praticamente inaudíveis, em que os cabelos já não crescem, as canções envelheceram e os poemas, tal como a memória, perderam o vigor.

Lá vem ela de novo, a caminhar beleza e destilar malícia no andar como um rio de águas límpidas – ora calmas, ora revoltas – que rola em seu leito em direção ao mar. Como as águas do rio, ela nunca é a mesma, porque cada vez mais bela, cada vez mais vida, viva, vívida a nos convidar à vida.

Existe um tempo em que a chegada do novo ano renova as esperanças de que tudo vai melhorar – ou pelos menos deixará de piorar. Mas outro tempo existe em que o ano que parte deixa como herança o outro que já nasce velho. E no qual você, também velho, mais velho fica. É quando o medo da dor e da solidão aumentam, além da morte ficar mais próxima.

E lá vai ela. Linda como um dia de sol, misteriosa como o outro lado da lua, exuberante como um céu de estrelas iridescentes, impossível como o amor platônico. Lá vai ela. Música no ar a provar que pode ser que o amor exista e que a felicidade é mais que uma pluma a flutuar no éter ao sabor do vento.

E como a onda do mar, desafiando os grãos de areia ao encontrar a praia a cada ir e vir, enquanto a vida passeia no requebrado dos quadris da moça-vida que vai ao encontro do amor, quem sabe...

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