Márcio Doti
É uma pergunta digna de muita reflexão
essa em que se busca saber exatamente a quem interessa uma grande pizza que
seja assada a várias mãos para superar o quadro terrível em que se encontra o
país. É óbvio que interessa a várias e várias mãos porque uma espécie de
“acordão” viria de encomenda para inúmeras pessoas e setores. A começar pela
própria política. Os políticos brasileiros se acostumaram, em grande parte, a
viver sob os auspícios da desonestidade que rende muito mais do que os
generosos ganhos patrocinados por leis que eles mesmos criaram para se
remunerar. Por mais que sejam os subsídios, repasses, gratificações e verbas
indenizatórias, os cambalachos inventados e praticados debaixo dos panos rendem
muito mais dinheiro.
E a julgar pelo que estamos
testemunhando de panos quentes, de jeitinhos e decisões acobertadoras, as
operações da Polícia Federal e as delações premiadas estão a comprovar que são
milhões de reais e, assustadoramente, milhões de dólares que podem não caber
nas cuecas, mas cabem em bancos do exterior, cabem em cofres, em inúmeros
lugares que nem a vista e sequer a Justiça alcançam. Em matéria de vantagens, o
quadro dominante nos ambientes da política brasileira só não interessa àquela minoria
de políticos sérios que ganham rótulo de bandido sem serem, que perdem nos
plenários as questões mais elementares porque há uma maioria que vota de acordo
com o dinheiro que recebe de terceiros e nunca pelo que convém ao povo
brasileiro. Há uma parcela do empresariado que convive bem com esse ambiente
poluído. Também isso tem sido mostrado pelas operações da Polícia Federal.
Gente que ganha e deixa ganhar. Grandes que se juntam para ditar as regras do
jogo cujo placar lhes é sempre conveniente.
A parcela séria do empresariado tem
dois caminhos a escolher: pula fora ou é obrigada a aceitar as regras ditadas
pelo Brasil podre dos nossos dias. Está visto que essa pizza só não convém ao
povo brasileiro, por povo brasileiro se entendendo aquela porção maior da
população do país, que paga um alto preço por esses arranjos em que ganham os
que combinam e sempre mais do que seria o justo, o correto. O Brasil dos nossos
dias custa muito mais caro do que deveria. Razão pela qual faltam escolas,
hospitais, serviços que poderíamos ter com grande qualidade se boa parte de
tudo o que se arrecada não ficasse no meio do caminho, nos bolsos desonestos
que vivem acima da lei.
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