Manoel Hygino
A Segunda Grande Guerra não acabou. Na
última semana do ano finado, a França, mesmo estremecida pela inquietude
causada por terroristas e pelo temor de novos atentados, decidiu abrir os
arquivos do regime de VIchy. Este foi o período em que a Alemanha nazista
ocupou o Norte da França e o marechal Pétain, herói do primeiro conflito
mundial, liderou um regime livre, estabelecendo uma política de colaboração com
Berlim.
Não é só. Verifico que na Alemanha se
lançará uma nova edição do “Mein Kampf”, “Minha Luta”, livro de Hitler,
contendo uma exposição de suas ideias e um prognóstico de sua futura ação
política. Em resumo: trata-se de uma volta a essa época tenebrosa da Europa.
Hitler frustrara-se em todos os seus
planos. Nascido na Áustria em 1889, estudante medíocre, não conseguiu
graduar-se, sequer ingressar na Academia de Belas-Artes de Viena. Encaminhou-se
à política, transformou o partido Trabalhista Alemão de Munique e mudou seu
nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores, o Nazista, assumindo-o
com poderes ilimitados. Tentou apoderar-se do governo da Baviera, mas a
tentativa falhou.
Cumpriu nove meses dos cinco anos de
prisão a que fora condenado, na fortaleza de Landsberg, onde escreveu o livro.
Suas ideias básicas se inspiravam na
classe média de Viena, onde passara a juventude. Acreditava na desigualdade
entre os homens e as raças, decorrência da ordem das coisas e exaltava os
arianos. A unidade natural da espécie humana, era o Volk, que encontrava sua
encarnação no guia, o “Fuhrer”, a quem se atribuía autoridade absoluta. Para
ele, os judeus eram os maiores inimigos do nazismo, figura mítica que
concentrava tudo o que ele temia e odiava. Cria que, com a Segunda Grande
Guerra, coma morte de seis milhões de judeus, solucionava-se o processo de
implantação da “nova Ordem” no Ocidente.
Abrigou-se junto à chancelaria de
Berlim em janeiro de 1945, com um reduzido grupo de prosélitos. Em 29 de abril,
se casou com Eva Braun no bunker e, no dia seguinte, suicidaram-se. A edição do
livro, setenta anos após os acontecimentos, poderá contribuir para lançar luzes
sobre fatos ainda obscuros, mas poderá agitar o país.
Os fantasmas não morreram, estão junto
a nós, todos os dias. Os problemas pessoais de Hitler mudaram os rumos da
história. O historiador John Toland define: “A marcha da história deriva da
dificilmente previsível psicologia humana, psicologia em que atuam também
fatores objetivos, econômicos e sociais”.
Há mais a sentenciar: “Certamente, a história
não é dirigida por leis científicas: admiti-lo seria erigir em dogma um
determinismo que se fundamenta apenas em fé pessoal ou em mitos políticos”.
O general Warlimont classificava de
feminina a natureza de Hitler, por seguir a intuição de preferência à lógica.
Aliás, foi a intuição que lhe permitiu entrar em sintonia tão perfeita com os
seus conterrâneos, assim como o levou a erros irremediáveis.
George Kennan acha que Hitler tinha
aptidão para conquistar entre o povo uma fidelidade e um entusiasmo sem
limites, pelo poder da palavra. “Hitler era homem perigoso; fanático, brutal,
caviloso, homem de quem se podia esperar a duplicidade mais extremada, mais
incrível”.
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