quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

O MUNDO SENTE FALTA DESSE TIPO DE GENTE



  

Manoel Hygino




A Segunda Grande Guerra não acabou. Na última semana do ano finado, a França, mesmo estremecida pela inquietude causada por terroristas e pelo temor de novos atentados, decidiu abrir os arquivos do regime de VIchy. Este foi o período em que a Alemanha nazista ocupou o Norte da França e o marechal Pétain, herói do primeiro conflito mundial, liderou um regime livre, estabelecendo uma política de colaboração com Berlim.

Não é só. Verifico que na Alemanha se lançará uma nova edição do “Mein Kampf”, “Minha Luta”, livro de Hitler, contendo uma exposição de suas ideias e um prognóstico de sua futura ação política. Em resumo: trata-se de uma volta a essa época tenebrosa da Europa.

Hitler frustrara-se em todos os seus planos. Nascido na Áustria em 1889, estudante medíocre, não conseguiu graduar-se, sequer ingressar na Academia de Belas-Artes de Viena. Encaminhou-se à política, transformou o partido Trabalhista Alemão de Munique e mudou seu nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores, o Nazista, assumindo-o com poderes ilimitados. Tentou apoderar-se do governo da Baviera, mas a tentativa falhou.

Cumpriu nove meses dos cinco anos de prisão a que fora condenado, na fortaleza de Landsberg, onde escreveu o livro.

Suas ideias básicas se inspiravam na classe média de Viena, onde passara a juventude. Acreditava na desigualdade entre os homens e as raças, decorrência da ordem das coisas e exaltava os arianos. A unidade natural da espécie humana, era o Volk, que encontrava sua encarnação no guia, o “Fuhrer”, a quem se atribuía autoridade absoluta. Para ele, os judeus eram os maiores inimigos do nazismo, figura mítica que concentrava tudo o que ele temia e odiava. Cria que, com a Segunda Grande Guerra, coma morte de seis milhões de judeus, solucionava-se o processo de implantação da “nova Ordem” no Ocidente.

Abrigou-se junto à chancelaria de Berlim em janeiro de 1945, com um reduzido grupo de prosélitos. Em 29 de abril, se casou com Eva Braun no bunker e, no dia seguinte, suicidaram-se. A edição do livro, setenta anos após os acontecimentos, poderá contribuir para lançar luzes sobre fatos ainda obscuros, mas poderá agitar o país.

Os fantasmas não morreram, estão junto a nós, todos os dias. Os problemas pessoais de Hitler mudaram os rumos da história. O historiador John Toland define: “A marcha da história deriva da dificilmente previsível psicologia humana, psicologia em que atuam também fatores objetivos, econômicos e sociais”.

Há mais a sentenciar: “Certamente, a história não é dirigida por leis científicas: admiti-lo seria erigir em dogma um determinismo que se fundamenta apenas em fé pessoal ou em mitos políticos”.

O general Warlimont classificava de feminina a natureza de Hitler, por seguir a intuição de preferência à lógica. Aliás, foi a intuição que lhe permitiu entrar em sintonia tão perfeita com os seus conterrâneos, assim como o levou a erros irremediáveis.

George Kennan acha que Hitler tinha aptidão para conquistar entre o povo uma fidelidade e um entusiasmo sem limites, pelo poder da palavra. “Hitler era homem perigoso; fanático, brutal, caviloso, homem de quem se podia esperar a duplicidade mais extremada, mais incrível”.

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