Simone Demolinari
A imagem continua falando mais que mil
palavras, sobretudo na era digital. Nunca se soube tanto da vida e da aparência
das pessoas, graças às redes sociais.
Algumas fotos são ícones de audiência,
como “look do dia”, a academia, pratos de comida e lugares privilegiados. São
fotos escolhidas a dedo e filtradas para intensificar a beleza.
A posição de lótus com alguém
supostamente meditando junto à hashtag “zen” também está em alta. Esta é uma
imagem que tem a intenção de transmitir um estado de paz, mas, para alcançar o
ângulo ideal, é preciso virar, mexer, murchar a barriga. É tanto trabalho que
talvez a hashtag adequada seria “estresse”.
As legendas também ajudam a expressar
o que se sente nas imagens, mas nem sempre a gratidão ou a felicidade declarada
é um bom medidor do sentimento. Quem vê foto não vê emoção.
Recentemente, uma blogueira
australiana, considerada sensação na internet, fez a linha “Mister M” digital e
resolveu expor toda a falsidade do mundo lindo e perfeito que é criado por
algumas pessoas na internet.
A modelo ganhou repercussão mundial ao
revelar truques, e contar como as fotos eram produzidas.
Numa postagem na qual ela exibia um
vestido, trazia a legenda: “Eu não paguei por esse vestido, tirei inúmeras
fotos para tentar aparecer quente o bastante para o Instagram. Estava me
sentindo incrivelmente sozinha”.
Em outra, ela escreveu: “Por favor,
deem like nesta foto, eu me maquiei, enrolei meu cabelo, vesti um vestido
apertado, usei uma bijuteria desconfortável... Tirei 50 fotos até que tivesse
uma que achei que você fosse gostar, então editei com toneladas de aplicativos
apenas para que eu pudesse me sentir aprovada socialmente por você”. A
blogueira se disse cansada de fingir e decidiu abandonar a vida de aparências.
As redes sociais causam dependência na
maioria dos seus usuários e gera uma síndrome de dignidade virtual na qual há
uma expectativa de reciprocidade, estilo “eu te curto, você me curte” e uma
necessidade de validação social que é medida através de curtidas, elogios e
seguidores.
Mas claro que nem tudo é farsa no
mundo digital. Muitas vezes, a viagem foi realmente tão boa quanto a imagem
mostrou e o sorriso foi de fato de alegria.
As redes sociais não são ruins e têm
sua utilidade. O problema é entrar no mundo da ilusão e perder o filtro da
realidade considerando verdadeiro tudo aquilo que se vê. Quando isso ocorre, há
uma grande frustração com a própria vida e uma valorização da vida alheia.
Tudo que é do outro fica mais
interessante. O marido da outra é mais romântico, a esposa do outro tem o corpo
melhor. Mas, nem tudo que parece é. Quantas vezes vimos fotos de casal
supostamente feliz (com legenda “apaixonada”) e que terminam o casamento meses
depois?
É importante enxergar além do óbvio
para não se encantar com a perfeição forjada. Muitas vezes, a grama do vizinho
não é mais verde, o filtro do Instagram dele que é melhor.
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