sábado, 16 de janeiro de 2016

I CAN''T GET NO SATISFATION...



  

José Eutáquio de Oliveira




O amor acaba. Por causa de uma carícia negada; da resposta mal educada; em noite de lua cheia, logo depois que ele mete o pé no freio no auge da discussão, e ela desce do carro batendo porta com força, mandando um “vá à merda” bem sonoro para o ex-amado.
Termina o amor quando, em um dia qualquer, dá-se conta de que o encantamento cedeu lugar à indiferença e não há mais nada a fazer porque o coração ficou murcho; ou quando o sofrimento é tão insuportável que, por questão de sobrevivência, a gente pede o boné e parte para outra, deixando tudo para trás – até mesmo a escova de dente; encerra-se o amor, quando ouvir estrelas em dia de céu enluarado parece somente loucura e vira pieguice tentar novamente curtir, juntos, aquelas canções de amor melosas; e fazer cócegas nos pés um do outro como prenúncio de uma boa trepada já não faz mais nenhum sentido.
Chega ao fim o amor no exato momento em que a lágrima dorida rola pelo rosto sozinha e se espatifa no chão como estilhaços de mágoa e ressentimentos; o amor acaba quando não se tem mais interesse em saber por que as ondas do mar bradam, ou que melodias cantam ao beijarem as areias da praia; o amor também pode sucumbir abruptamente quando nos sentimos como o capitão de um pequeno barco navegando só em meio ao mar revolto; ou quando I can’t get no satisfation... ‘Cause I try and I try I try, and I try... e nada.
Para no ar o amor no momento em que o tesão já não mais se insinua no escuro do cinema e tampouco depois das inúmeras DRs de fim de semana; num bar da Praça da Savassi esperando o garçom servir o café ele também pode parar; assim como pode acabar num fim de festa, subindo Bahia e descendo Floresta, com um par de chifres na testa; ou num minuto de bobeira, na varanda da casa, ouvindo um samba do Noel ou um tango do Gardel; do mesmo jeito que o amor vira anúncio fúnebre quando passear de mãos dadas na praça, comendo pipocas e dando piruás aos pássaros vira somente bobagem adolescente.
O amor encontra-se com a morte numa topada sem sorte, na bebida que não desce, na tosse do cigarro, na batida do carro, no jantar à beira-mar; no carnaval o amor costuma acabar em sangue, suor e cerveja, correndo atrás do trio elétrico que passa por cima de quem já morreu porque não foi; em noites de muita chuva, raios espantosos, trovões atordoantes, então, o amor acaba mesmo; mas acaba também nos dias de amanhecer esplendoroso, tardes magníficas, noites pacíficas, em dias de jogos do Galo, nas bebedeiras no Mercado Central, nos botecos de Santa Teresa – no balcão ou na mesa – durante as caminhadas no Parque Municipal, nos passeios na Mata do Jambreiro, em dezembro, março ou fevereiro; em plena Praça Sete o amor pode chegar ao fim em meio ao trânsito pesado, ou na espera do semáforo; como também pode acontecer de o amor falecer de repente, numa noite de São João ao som do foguetório junino, num bate-coxa xaxado, num foxtrote ou num baião arretado; de susto o amor encerrar suas atividades no balanço do trem, no tédio do voo noturno, no movimento dos barcos. O amor sempre acaba. Como tudo na vida. Como a vida.

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