Rodolfo Gropen*
A crise econômica não bate na porta.
Sem pedir licença ela já adentrou ao nosso ambiente, pessoal e profissional.
Estamos em recessão. Contudo, não podemos considerar que a salvação e a
recuperação do nosso país reside no badalado e cada vez mais incrementado
ajuste fiscal. Ocorre ponderar que já houve em 2015 os aumentos do IOF sobre
operações de crédito, do PIS/COFINS/CIDE sobre combustíveis, do IPI sobre os
cosméticos, do PIS/COFINS sobre a importação, a redução do REINTEGRA, além do
PIS/COFINS incidente sobre receitas financeiras; ouve-se dizer da possibilidade
de recriação da CPMF, da taxação sobre grandes fortunas, bem como da tributação
incidente nos juros sobre capital próprio e do imposto sobre dividendos no
mercado de capitais.
Os cofres públicos abiscoitam do bolso
dos contribuintes montantes cada vez maiores que, muitas vezes, acabarão
dilapidados em despesas públicas improdutivas. A carga tributária deveria ficar
estagnada. O Governo teria que se virar com o que arrecada, o que
definitivamente não é pouco, e aprimorar a qualidade de seus gastos. Simples
assim.
A carga tributária brasileira gira em
torno de 37% do PIB; mas, para além deste ônus, pesa sobremaneira o déficit
público.
Não podemos assistir inertes ao Brasil
público sufocando e refreando o Brasil privado. Um funesto círculo vicioso que
inclui a rolagem da dívida pública e uma crescente taxa de juros – das mais
altas no universo de nações detentoras do grau de investimento -, desaguando em
uma série de desinvestimentos e no desenvolvimento perverso do desemprego, que
infelizmente volta a assombrar e assolar as famílias brasileiras. Hoje são
cerca de oito milhões de desempregados.
A bem da verdade, faltam gestão e
planejamento eficazes. Porque não se agride seriamente o desperdício público?
Porque o controle de gastos é tão anêmico, para não dizer frouxo. Porque há
tantos problemas na implementação das obras públicas? À guisa de exemplo, são
incontáveis as incorreções e alterações nas obras de transposição do Rio São
Francisco. Para ficar em um episódio mais próximo, impressiona e nos abala
frequentar as obras inacabadas e imperfeitas do já privatizado aeroporto
Tancredo Neves, em Confins. Um verdadeiro monumento à incompetência.
Tudo está a indicar que perdemos duas
vezes, pagamos muitos tributos e usufruímos de uma contrapartida raquítica,
absolutamente desbalanceada. E não podemos mais perder tempo no capricho da
requalificação dos nossos gastos, também porque a população brasileira, embora
hoje jovem e ativa, não tarda a envelhecer. Se ficarmos de braços cruzados,
somente testemunhando a história, a previdência pública restará inviabilizada.
Precisamos desfulanizar nossa energia e pressionar ordeiramente os agentes
públicos para alterarem esta ordem das coisas.
Em palavras finais, eu queria mesmo
uma nova belle époque, um mundo de prosperidade, segurança e valorização das
artes, mas a realidade mostra a crise econômica aqui instalada. Uns optam por
chorar, eu por vender lenços.
Nenhum comentário:
Postar um comentário