terça-feira, 5 de janeiro de 2016

CHORAR OU RESISTIR?



  

Rodolfo Gropen*




A crise econômica não bate na porta. Sem pedir licença ela já adentrou ao nosso ambiente, pessoal e profissional. Estamos em recessão. Contudo, não podemos considerar que a salvação e a recuperação do nosso país reside no badalado e cada vez mais incrementado ajuste fiscal. Ocorre ponderar que já houve em 2015 os aumentos do IOF sobre operações de crédito, do PIS/COFINS/CIDE sobre combustíveis, do IPI sobre os cosméticos, do PIS/COFINS sobre a importação, a redução do REINTEGRA, além do PIS/COFINS incidente sobre receitas financeiras; ouve-se dizer da possibilidade de recriação da CPMF, da taxação sobre grandes fortunas, bem como da tributação incidente nos juros sobre capital próprio e do imposto sobre dividendos no mercado de capitais.

Os cofres públicos abiscoitam do bolso dos contribuintes montantes cada vez maiores que, muitas vezes, acabarão dilapidados em despesas públicas improdutivas. A carga tributária deveria ficar estagnada. O Governo teria que se virar com o que arrecada, o que definitivamente não é pouco, e aprimorar a qualidade de seus gastos. Simples assim.

A carga tributária brasileira gira em torno de 37% do PIB; mas, para além deste ônus, pesa sobremaneira o déficit público.

Não podemos assistir inertes ao Brasil público sufocando e refreando o Brasil privado. Um funesto círculo vicioso que inclui a rolagem da dívida pública e uma crescente taxa de juros – das mais altas no universo de nações detentoras do grau de investimento -, desaguando em uma série de desinvestimentos e no desenvolvimento perverso do desemprego, que infelizmente volta a assombrar e assolar as famílias brasileiras. Hoje são cerca de oito milhões de desempregados.

A bem da verdade, faltam gestão e planejamento eficazes. Porque não se agride seriamente o desperdício público? Porque o controle de gastos é tão anêmico, para não dizer frouxo. Porque há tantos problemas na implementação das obras públicas? À guisa de exemplo, são incontáveis as incorreções e alterações nas obras de transposição do Rio São Francisco. Para ficar em um episódio mais próximo, impressiona e nos abala frequentar as obras inacabadas e imperfeitas do já privatizado aeroporto Tancredo Neves, em Confins. Um verdadeiro monumento à incompetência.

Tudo está a indicar que perdemos duas vezes, pagamos muitos tributos e usufruímos de uma contrapartida raquítica, absolutamente desbalanceada. E não podemos mais perder tempo no capricho da requalificação dos nossos gastos, também porque a população brasileira, embora hoje jovem e ativa, não tarda a envelhecer. Se ficarmos de braços cruzados, somente testemunhando a história, a previdência pública restará inviabilizada. Precisamos desfulanizar nossa energia e pressionar ordeiramente os agentes públicos para alterarem esta ordem das coisas.

Em palavras finais, eu queria mesmo uma nova belle époque, um mundo de prosperidade, segurança e valorização das artes, mas a realidade mostra a crise econômica aqui instalada. Uns optam por chorar, eu por vender lenços.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VÁRIOS RECADOS SOBRE O CONTROLE DAS BIG TECHS

  Big Techs ...