Opinião Jornal Hoje
em Dia
Sempre que vem à tona o questionado
processo de impeachment, não falta quem pretenda comparar a situação atual com
o que ocorreu por ocasião da queda de Fernando Collor. São situações que se
identificam, notadamente, em relação à lei que definiu as circunstâncias em que
possa ocorrer o impedimento, ou seja, a lei 1.079/50.
O que sucede presentemente é o
surgimento de esquemas indecorosos de pilhagem envolvendo legisladores,
dirigentes estatais, banqueiros, que se aprimoraram no cometimento de atos
vergonhosos, num alheamento total ao mínimo de ética que deva prevalecer numa
sociedade séria.
Não menos absurdas são as críticas às
operações Lava Jato e Zelotes, tidas como responsáveis pelo desabamento da
economia, como se a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público
importasse na razão direta da situação aflitiva que o país enfrenta.
Recentemente, o presidente da Força
Sindical, Miguel Torres, incorreu no atrevimento de afirmar que este desempenho
não deveria ser de combate à corrupção, mas sim em favor da criação de empregos
e investimentos. Assim, seria preferível tolerar a corrupção, desde que as
empresas não corressem o risco de quebrarem, com milhares de empregos vindo a
ser extintos.
Trata-se de um mero sofisma,
aparentemente sedutor, que importa, em última análise, em assegurar um atalho
menos custoso pelo qual as empreiteiras possam subsistir, ainda que atuando à
margem da lei.
Os que ousam defender esse
comportamento fingem ignorar que a lei anticorrupção prevê a punição para
pessoas jurídicas, o que desfaz a versão de que não possam ser penalizadas
pelas trapaças de que vinham participando com o beneplácito do poder público.
Todos os negócios escusos que envolvam
sociedades e governo não podem deixar de ser averiguados com o mesmo rigor,
ainda que isso importe em cessação da atividade empresarial.
Há inúmeras empresas de porte médio e
pequenas com capacidade técnica, em condições de levar adiante obras de
infraestrutura que vinham sendo realizadas pelas dotadas de renome, vinculadas
a interesses políticos. Naquelas, o progresso é resultante do esforço em obter
um lugar ao sol, mesmo sem contar com o apadrinhamento estatal de toda sorte.
Recente pesquisa do Datafolha revelou
que a preocupação de 34% dos entrevistados é com a corrupção, enquanto a saúde
figura em segundo lugar, com 16%. De acordo com aquele levantamento, a péssima
avaliação da presidente Dilma Rousseff e do partido que a sustentou (67%) só se
equipara à de Fernando Collor (68%) às vésperas do impeachment.
Diante desses dados, a vingar o
interesse de uma fiel minoria em comparar os dois governos, deixa de haver
justificativa que impeça o processamento do pedido de impeachment se a
insatisfação popular anterior, que resultou na queda de Collor, não foi maior
que a atual, gerada por fatos reconhecidamente mais graves.
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