segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

QUEREM LEGALIZAR A CORRUPÇÃO



  

Opinião Jornal Hoje em Dia 


Sempre que vem à tona o questionado processo de impeachment, não falta quem pretenda comparar a situação atual com o que ocorreu por ocasião da queda de Fernando Collor. São situações que se identificam, notadamente, em relação à lei que definiu as circunstâncias em que possa ocorrer o impedimento, ou seja, a lei 1.079/50.
O que sucede presentemente é o surgimento de esquemas indecorosos de pilhagem envolvendo legisladores, dirigentes estatais, banqueiros, que se aprimoraram no cometimento de atos vergonhosos, num alheamento total ao mínimo de ética que deva prevalecer numa sociedade séria.
Não menos absurdas são as críticas às operações Lava Jato e Zelotes, tidas como responsáveis pelo desabamento da economia, como se a atuação da Polícia Federal e do Ministério Público importasse na razão direta da situação aflitiva que o país enfrenta.
Recentemente, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, incorreu no atrevimento de afirmar que este desempenho não deveria ser de combate à corrupção, mas sim em favor da criação de empregos e investimentos. Assim, seria preferível tolerar a corrupção, desde que as empresas não corressem o risco de quebrarem, com milhares de empregos vindo a ser extintos.
Trata-se de um mero sofisma, aparentemente sedutor, que importa, em última análise, em assegurar um atalho menos custoso pelo qual as empreiteiras possam subsistir, ainda que atuando à margem da lei.
Os que ousam defender esse comportamento fingem ignorar que a lei anticorrupção prevê a punição para pessoas jurídicas, o que desfaz a versão de que não possam ser penalizadas pelas trapaças de que vinham participando com o beneplácito do poder público.
Todos os negócios escusos que envolvam sociedades e governo não podem deixar de ser averiguados com o mesmo rigor, ainda que isso importe em cessação da atividade empresarial.
Há inúmeras empresas de porte médio e pequenas com capacidade técnica, em condições de levar adiante obras de infraestrutura que vinham sendo realizadas pelas dotadas de renome, vinculadas a interesses políticos. Naquelas, o progresso é resultante do esforço em obter um lugar ao sol, mesmo sem contar com o apadrinhamento estatal de toda sorte.
Recente pesquisa do Datafolha revelou que a preocupação de 34% dos entrevistados é com a corrupção, enquanto a saúde figura em segundo lugar, com 16%. De acordo com aquele levantamento, a péssima avaliação da presidente Dilma Rousseff e do partido que a sustentou (67%) só se equipara à de Fernando Collor (68%) às vésperas do impeachment.
Diante desses dados, a vingar o interesse de uma fiel minoria em comparar os dois governos, deixa de haver justificativa que impeça o processamento do pedido de impeachment se a insatisfação popular anterior, que resultou na queda de Collor, não foi maior que a atual, gerada por fatos reconhecidamente mais graves.



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