terça-feira, 8 de dezembro de 2015

EPITÁFIO



  

Luiz Hippert


“Devia ter complicado menos, trabalhado menos/ Ter visto o sol se pôr/ Devia ter me importado menos com problemas pequenos/ Ter morrido de amor/ Queria ter aceitado a vida como ela é/ A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier”.
Aqui estou eu, mais uma vez abrindo os trabalhos com trecho de música. Essa é “Epitáfio”, de Sérgio Britto, grande sucesso na interpretação dos Titãs, banda da qual o autor é um dos componentes.
Pois é, arrependimentos, quem não os tem? Dizer que a gente não deve se arrepender é outro mito, feito aquele que falei semana passada, sobre trabalhar naquilo que se ama. Só poderia não se arrepender quem não fizesse nada, mas, na verdade, nem esse daí. Como a vida é feita de escolhas, é bem natural que todo mundo, em algum, ou em vários momentos, se arrependa. Lá na frente, certamente nem todas estas escolhas irão se revelar as melhores. Enfim, o ponto principal nem é se arrepender do que foi feito – que revela no mínimo ação e tentativa – mas sim daquilo que deixou passar. Mais ou menos igual a letra da música ali do início tá falando.
Há alguns anos, uma enfermeira lá nos EUA publicou um livro, fruto de estudos a partir da sua atuação junto a pacientes terminais. Nele, ela relata os cinco principais arrependimentos, os campeões entre os seus pesquisados. O nome dela, pra dar os créditos certinhos, é Bronnie War. No Brasil, a coisa viralizou no mundo virtual por causa de um vídeo produzido pelo Hospital Albert Einstein. Para o trabalho, eles convidaram a médica geriatra Ana Cláudia Arantes, que gravou o tal vídeo comentando cada um dos arrependimentos coletados pela enfermeira americana. Nessa conversa aqui, vale a pena listar os cinco, mas, os comentários, acho, não vêm muito ao caso. Quem ficar curioso e quiser aprofundar mais, é só dar um Google.

1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim
2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto
3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos
4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos
5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz
Então, tudo coisas que as pessoas deixaram de fazer. Arrepender de um mau negócio que gerou prejuízo financeiro ou da compra de uma camisa que na loja era uma coisa, no espelho de casa virou outra, é bem mais tranquilo existencialmente do que a constatação de ter deixado de viver seus melhores momentos em função do medo, da insegurança, ou do julgamento alheio.
De fato, o arrependimento não serve pra muita coisa, uma vez que ele faz parte do passado, que nem existe mais. Mas, pelo menos, pode funcionar como aprendizado. É o tal do “se jogar”, porque a vida é uma só e, se vai haver algum momento de lamentação, que seja pelo feito, e não pelo sempre adiado até não ter mais jeito.
Pra fechar, quero lembrar de uma outra coluna dessas, que escrevi em setembro do ano passado. Tá fácil de achar no arquivo do site. Nela eu perguntava, ainda no título: “Qual é a Hora H?” Sem querer dar uma resposta definitiva à minha própria pergunta, me arrisco a dizer que, na maioria das vezes, a hora é agora.

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