Transposição do rio São
Francisco sem revitalização
Bruno Moreno - Hoje
em Dia
Processos erosivos
têm provocado o assoreamento e o rebaixamento do lençol freático
A primeira etapa da transposição do rio São Francisco deve entrar em
funcionamento no começo de 2016, após sucessivos adiamentos, mas a necessária
revitalização do “Velho Chico”, tida como fundamental pelos ambientalistas para
que a água pudesse ser desviada, pouco saiu do papel.
Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado ontem,
examinou o Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco
(PRSF), e chama a atenção para o aumento da erosão nas margens do rio e dos
cursos d’água que alimentam.
“Existem indícios de que a vazão do rio São Francisco e de seus
afluentes pode estar sendo reduzida pelos processos erosivos que têm provocado
o assoreamento e o rebaixamento do lençol freático”, afirma o ministro João
Augusto Ribeiro Nardes, relator do documento.
Na introdução, ele argumenta que as iniciativas de recuperação e
controle de processos erosivos são dispersas e receberam poucos recursos,
“insuficientes para reverter o quadro de degradação da bacia, sobretudo
considerando-se o acentuado compasso de degradação do solo”.
Na opinião de Nardes, além do baixo volume de investimentos, as ações de
recuperação e impedimento de processos erosivos na bacia do São Francisco,
principalmente as ligadas à recuperação de áreas degradadas, “apresentaram
fragilidades em sua sustentabilidade”, avaliou.
No relatório, o ministro diz, ainda, que os poucos estudos disponíveis,
além da baixa participação das comunidades e da falta de planejamento de médio
e longo prazos das ações por parte dos órgãos executores, “levam à perda das
atividades desenvolvidas e ao desperdício de recursos públicos”.
Apesar das críticas ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Companhia
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf),
responsáveis pela implementação do PRSF, o relatório não apresenta dados da
erosão e da diminuição da vazão do rio.
A Codevasf informou ao TCU que investiu R$ 2,7 bilhões em ações de
despoluição e melhorias das águas do rio. Já o MMA informou que de 2012 a 2015
investiu R$ 2,9 milhões, com previsão de investir mais R$ 1,7 milhão de 2016 a
2019 em ações que não envolvem obras.
O mobilizador do projeto Manuelzão, que trabalha para a melhoria da qualidade
da água na bacia do rio das Velhas, Procópio de Castro, criticou a forma como
foram conduzidos os projetos.
“O São Francisco tem bancos de areia porque está se permitindo que toda
a erosão chegue ao rio. Ela mata tudo, sufoca tudo. Muito do processo de
revitalização foi falseado por projetos políticos partidários”, criticou.
Mexilhão dourado é detectado e compromete o projeto
Antes mesmo de a transposição do rio São Francisco começar a abastecer reservatórios
no Nordeste, o que está previsto para o início de 2016, um invasor já foi
detectado. O mexilhão dourado, um molusco asiático, já havia sido encontrado no
baixo e médio São Francisco, mas agora também foi detectado nos canais de
transposição.
Em expedição realizada por pesquisadores do Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras (CBEIH), no último mês de outubro, foram encontrados os exemplares da espécie exótica.
Em expedição realizada por pesquisadores do Centro de Bioengenharia de Espécies Invasoras (CBEIH), no último mês de outubro, foram encontrados os exemplares da espécie exótica.
O molusco não faz mal à saúde das pessoas, mas a preocupação é o
potencial que ele tem de entupir tubulações e filtros de tratamento de água. A
preocupação é que há grandes projetos de captação de água em andamento, em
especial no Eixo Norte do canal de transposição do rio São Francisco, a
aproximadamente 150 quilômetros do reservatório de Sobradinho.
O pesquisador do CBEIH, Newton Barbosa, afirmou que foram encontradas
larvas e indivíduos adultos, o que indica que o molusco já está bem
estabelecido na região. “A presença destes organismos nestas localidades é
grave, pois afetará a captação de água pelas comunidades, porque o molusco
encrusta nos canos causando entupimento. É extremamente urgente que estas
localidades comecem a ser monitoradas desde já”, alerta o pesquisador.
Originária do Sudeste Asiático, a espécie Limnoperna fortunei chegou à
América do Sul, em 1991, pelo porto de Buenos Aires, por meio das águas de
lastro dos navios e se disseminou a partir do rio da Prata. O molusco subiu o
rio e chegou ao Brasil, encontrando abrigo principalmente no Triângulo Mineiro.
Mas, no rio São Francisco, ele deve ter sido introduzido por meio de soltura de
alevinos.
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