terça-feira, 1 de dezembro de 2015

MUITA EMISSÃO DE TÍTULOS E O DINHEIRO SOME



  

José Antônio Bicalho
jleite@hojeemdia.com


Um leitor atento comentou sobre a coluna de ontem o que, a seu ver, seria uma contradição. Ontem, escrevi sobre o risco de novo rebaixamento da nota de risco do Brasil pelas grandes agências de rating caso o governo não consiga aprovar sua proposta para a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016 (com o retorno da CPMF) e a mudança na meta fiscal para esse ano até dia 15 deste mês que começa.

O leitor lembrou a coluna publicada em 11/09 (pode ser lida no portal do Hoje em Dia, clicando em Colunas), sob o título “Rebaixamento não é o fim do mundo”. Nela, defendi exatamente o que diz o título, que a perda do grau de investimento não significava iminência de que o país iria quebrar. O leitor tem razão em suspeitar de contradição, mas justifico.

A pressão política sobre o governo Dilma se intensificou muito nas últimas semanas, o que amplifica qualquer desajuste na área econômica. Além disso, um rebaixamento da nota de crédito do país, hoje, seria diferente do promovido pela Standard & Poor’s no início de setembro. Desta vez, não seria descer um degrau, mas sair do grupo dos bons pagadores para entrar no dos investimentos especulativos.

Ainda afirmo que um rebaixamento não significa o fim do mundo, mas seria bem mais delicado. Em outubro, segundo o último relatório da dívida do Tesouro Nacional, as emissões de títulos foram de R$ 37,79 bilhões, enquanto os resgates alcançaram R$ 148,74 bilhões. A diferença mostra dificuldades na rolagem da dívida e é fruto da pressão do mercado por um retorno acima do que o Tesouro aceitou pagar.

Se perdemos o grau de investimento, os fundos de investimentos internacionais mais conservadores debandariam. Mas, com R$ 406,9 bilhões em títulos do governo brasileiro, os estrangeiros detêm o equivalente a 19,1% do estoque da dívida brasileira. Destes, nem todos debandariam, e no lugar dos conservadores, fundos mais agressivos seriam atraídos por conta dos juros mais altos do mundo pagos pelo país. Mas, uma desestabilização passageira no controle da dívida aconteceria. E isso não é positivo num momento de falta de estabilidade política e econômica interna.



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