sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

LUCRO ACIMA DA PREVENÇÃO



  

Eduardo Costa




Minhas filhas sofrem com a repetição: “A vida é resultado de escolhas”. A mais velha ouve desde a infância o lembrete da Nair, amiga de velha data, que todo mundo tem o que merece. Afinal, pé de jabuticaba não dá banana e quem planta mandioca não espera colher batata.
A Samarco vai pagar um preço justo – e alto – por não ter cuidados básicos ao longo de seus 40 anos. Na verdade, sabemos que governadores, prefeitos, deputados, jornalistas especializados e quase todos os ambientalistas sempre estiveram de joelhos diante do poderio da mineração.
Assim, ao longo de décadas, acidentes e mais acidentes foram acontecendo, matando, destruindo, e sempre fomos ajeitando, de sorte que a atividade – essencial à nossa economia e importante para o mundo – não tivesse controle, decência e imposto justo.
Um dia, o caldo entornou com a mais festejada das empresas. Em todos os encontros, seminários, cursos de pós-graduação e papos informais, a Samarco sempre foi referência de cuidado com seus trabalhadores, sem manchas na relação com o meio ambiente e queridíssima por Mariana – a cidade que bate todos os recordes de prefeitos “removidos” neste milênio.
Quando a lama começou a descer sobre Bento Rodrigues, mostrou ao mundo um acidente sem precedentes e uma verdade dolorida: a nossa empresa modelo não tinha cuidados elementares com seu negócio muito lucrativo. Você pode até perguntar pelas outras, as menores, e lhe direi que é melhor esquecer, neste momento, para não sofrer.
O jornal Folha de São Paulo publicou nessa quinta uma relação de perguntas que está tentando fazer à Samarco desde o acidente. Duas delas coincidem com as preocupações que tenho manifestado aqui desde 5 de novembro: por que Bento Rodrigues estava tão perto e por que a lama foi tão longe?
Francamente, com a experiência de quem já construiu algumas casas, cuidou da base, reforçou o alicerce, caprichou na ferragem, eu fico tentando respeitar os técnicos que cuidavam da barragem, mas é difícil. Não faço a menor ideia do peso de 40 bilhões de litros de rejeitos. No entanto, pela lógica matemática, sei que é uma infinidade de sujeira...
Então, como deixar aquelas pessoas morando logo ali embaixo, no caminho? Todo dia me pergunto se o rompimento da barragem tivesse acontecido de madrugada qual seria o tamanho do estrago.
Outra coisa é o fato de que a lama saiu de Bento Rodrigues e foi parar no mar. Prefeitura, governo do Estado, Feam, Ibama, governo federal, DNPM e outras siglas que só funcionam no papel não me surpreenderam.
Mas como uma empresa que lucra bilhões não tinha um plano para conter a lama? E como não responde, agora, que vidas e sonhos estão debaixo do barro?

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