Eduardo Costa
Minhas filhas sofrem com a repetição:
“A vida é resultado de escolhas”. A mais velha ouve desde a infância o lembrete
da Nair, amiga de velha data, que todo mundo tem o que merece. Afinal, pé de
jabuticaba não dá banana e quem planta mandioca não espera colher batata.
A Samarco vai pagar um preço justo – e
alto – por não ter cuidados básicos ao longo de seus 40 anos. Na verdade,
sabemos que governadores, prefeitos, deputados, jornalistas especializados e
quase todos os ambientalistas sempre estiveram de joelhos diante do poderio da
mineração.
Assim, ao longo de décadas, acidentes
e mais acidentes foram acontecendo, matando, destruindo, e sempre fomos
ajeitando, de sorte que a atividade – essencial à nossa economia e importante
para o mundo – não tivesse controle, decência e imposto justo.
Um dia, o caldo entornou com a mais
festejada das empresas. Em todos os encontros, seminários, cursos de pós-graduação
e papos informais, a Samarco sempre foi referência de cuidado com seus
trabalhadores, sem manchas na relação com o meio ambiente e queridíssima por
Mariana – a cidade que bate todos os recordes de prefeitos “removidos” neste
milênio.
Quando a lama começou a descer sobre
Bento Rodrigues, mostrou ao mundo um acidente sem precedentes e uma verdade
dolorida: a nossa empresa modelo não tinha cuidados elementares com seu negócio
muito lucrativo. Você pode até perguntar pelas outras, as menores, e lhe direi
que é melhor esquecer, neste momento, para não sofrer.
O jornal Folha de São Paulo publicou
nessa quinta uma relação de perguntas que está tentando fazer à Samarco desde o
acidente. Duas delas coincidem com as preocupações que tenho manifestado aqui
desde 5 de novembro: por que Bento Rodrigues estava tão perto e por que a lama
foi tão longe?
Francamente, com a experiência de quem
já construiu algumas casas, cuidou da base, reforçou o alicerce, caprichou na
ferragem, eu fico tentando respeitar os técnicos que cuidavam da barragem, mas
é difícil. Não faço a menor ideia do peso de 40 bilhões de litros de rejeitos.
No entanto, pela lógica matemática, sei que é uma infinidade de sujeira...
Então, como deixar aquelas pessoas
morando logo ali embaixo, no caminho? Todo dia me pergunto se o rompimento da
barragem tivesse acontecido de madrugada qual seria o tamanho do estrago.
Outra coisa é o fato de que a lama
saiu de Bento Rodrigues e foi parar no mar. Prefeitura, governo do Estado,
Feam, Ibama, governo federal, DNPM e outras siglas que só funcionam no papel
não me surpreenderam.
Mas como uma empresa que lucra bilhões
não tinha um plano para conter a lama? E como não responde, agora, que vidas e
sonhos estão debaixo do barro?
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