Márcio Doti
Cada vez fica mais evidente que o
mosquito Aedes Aegypti é um ícone de advertência à sociedade brasileira e,
principalmente, aos nossos administradores públicos. Porque o mosquito só
picava pobres na periferia, as providências foram sendo adiadas até que ele
voou, venceu o ar condicionado, entrou nas mansões e para elas levou não apenas
a dengue, mas a forma hemorrágica da doença e outras moléstias graves. A ameaça
mais recente e também mais terrível é a microcefalia, causada pelo zika vírus e
transmitida pelo mesmo Aedes aegypti que transmite a dengue e a chikungunya.
A presidente Dilma chegou a dizer que
não há razão para pânico e que o governo vai travar verdadeira batalha para
conter os mosquitos. Tomara que não seja com base no que o governo federal
investiu até hoje para reduzir a proliferação do Aedes aegypti. O orçamento tem
R$13,4 milhões, mas só R$418 mil foram gastos até o meio de novembro último.
O mosquito e as doenças que transmite
encontram terreno fértil no Brasil onde faltam campanhas sistemáticas, efetivas
e intensas de provocação ao cidadão para que auxilie no enfrentamento dos focos
do mosquito. No passado, chegou-se a utilizar intensamente o fumacê e grandes
equipes de combate aos focos. Mas não se vai alcançar isso com R$ 13 milhões e
muito menos com R$ 418 mil.
Essa é uma das consequências graves da
crise que atormenta o Brasil em várias formas, a crise econômica, a crise
política e a crise moral. Não se mata o mosquito Aedes aegypti com discurso,
muito menos com contingenciamentos produzidos pela ausência de verdadeira noção
de prioridades e, menos ainda, quando os recursos são desviados e se perdem
numa porção de investimentos inoportunos, inadequados e descoordenados.
Para o combate desse mosquito, uma das
formas efetivas é a utilização de larvicidas para combatê-los na origem, nas
águas onde são encontrados ou onde preventivamente podem abrigar ovos. Pois
falta até larvicida para esse trabalho, além do baixo número de equipes empregadas
para essa função.
Não se ouve esse assunto nos nossos
plenários. Neles só se fala em eleição municipal, verbas, luta pelo poder e
como fazer para driblar as leis e prevalecer nos erros impunemente. O mosquito
da dengue que saía por aí espalhando a dengue, a dengue hemorrágica e agora o
zika vírus, que provoca uma doença tão terrível que condena não apenas as
crianças atingidas, mas até mesmo os filhos que vier a ter.
Minas Gerais não poderia deixar de
constar da lista de recordistas entre os piores colocados. É o segundo Estado
em número de casos de contaminações precedido apenas por São Paulo. Em Belo
Horizonte, o mosquito avançou ao ponto de estar três vezes mais presente do que
no ano passado.
Minas Gerais exibe também o triplo do
número que ostentava em 2014. Ano passado, foram registrados 49.360 casos de
dengue. Neste ano, já são 145.371. E as providências estão sempre muito abaixo
do que seria necessário para o verdadeiro enfrentamento do quadro alarmante
pelas consequências das doenças espalhadas pelo Aedes aegypti.
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