segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

GASTANÇA DESEMFREADA E SEM RESPONSABILIDADE



  

Ricardo Galuppo



Uma diferença entre Joaquim Levy, que deixou o Ministério da Fazenda na sexta-feira passada, e seu sucessor, Nelson Barbosa, é a sinceridade com que cada um defende o equilíbrio das contas públicas – passo essencial para o Brasil sair do atoleiro. Quem ouvia Levy falar de ajuste fiscal percebia a convicção do ministro diante de uma necessidade que ele não tinha força política para implementar. Com Barbosa, a história é outra.
O novo ministro até se vale de palavras muito parecidas com as de Levy para defender o ajuste das contas. Mas é improvável que mova uma palha para conter a gastança desenfreada de dinheiro público, que é a raiz de todos os problemas econômicos do país.
Podem chamá-lo de qualquer coisa. Menos de ortodoxo. Foi dele, por exemplo, a ideia de mandar para o Congresso, em setembro passado, um orçamento que previa não superávit, mas déficit nas contas. A consequência foi desastrosa. E levou embora o que restava de credibilidade ao Brasil no mercado internacional.
GASTANÇA FEDERAL
O novo ministro é ligado à corrente de economistas autodenominada “desenvolvimentista”. Eles se baseiam, supostamente, na estratégia do inglês John Maynard Keynes, responsável por tirar os Estados Unidos da depressão iniciada em 1929 e por recuperar a economia da Europa, devastada pela 2ª Guerra Mundial. O problema é que, no Brasil, só aplicam metade dos conceitos de Keynes: a que defende o investimento estatal como base da política de desenvolvimento. Quanto à outra metade, ou não leram ou não entenderam. Keynes também defendia o respeito ao orçamento e falava da necessidade de controlar os gastos de custeio da máquina para o Estado ter fôlego financeiro para implementar suas políticas.
ENCILHAMENTO
Gasto público como mola propulsora do desenvolvimento não é uma novidade no Brasil e muito menos uma exclusividade do estilo petista de governar. Logo depois da implantação da República, mais precisamente em 1890, outro Barbosa assumiu o Ministério da Fazenda. Tratava-se de Ruy Barbosa, que passou à história como um tribuno brilhante – mas que foi um fracasso estrondoso como chefe da economia.
Ruy Barbosa, assim como fez Guido Mantega, também abriu os cofres dos bancos estatais a pretexto de financiar o desenvolvimento. Emprestava-se dinheiro a rodo a todo oportunista amigo do governo que prometesse erguer indústrias. E esperava-se que os empréstimos fossem quitados com a venda de ações dessas empresas à população do país. Isso deixaria para trás o tempo em que o Brasil era comandado pelas elites do Império. No final, todos ficariam ricos. Lá, como agora, prometeram o paraíso e entregaram o inferno.

A política de Barbosa, o Ruy, ficou conhecida como Encilhamento – numa referência pouco lisonjeira às corridas de cavalo que eram a fonte da jogatina da época. Ela empurrou o país para a recessão e foi o estopim de uma crise inflacionária que se estendeu até o início do século XX. Com o Barbosa atual, o Nelson, no comando é muito provável que a inflação e a crise também sejam legadas ao sucessor de Dilma Rousseff.
Seja ele quem for. Assuma ele quando assumir.

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