Eduardo Costa
“Tem dias que a gente se sente/Como
quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que
cresceu”.
Estou cada vez mais convencido de que
a música é um dos melhores remédios para nossas depressões diárias. Como
enfrentar uma semana que começou com Eduardo Cunha dizendo que o dinheiro
depositado em sua conta – ou, pelo menos parte dele – é obra de alguém que não
conhece, provavelmente para prejudicá-lo. Semana que continuou com a descoberta
de uma trama bárbara e doentia para o assassinato de uma universitária e acabou
com mais um desastre dos já recorrentes na nossa mineração.
A gente tem de pensar em alguma
música, obra-prima de poeta genial, para entender que esses absurdos fazem
parte da vida. “Roda Viva”, de Chico Buarque, cantada por nós desde 1967, é um
bom começo para filosofar. Afinal, já li pelo menos 200 diferentes
interpretações para seu conteúdo – desde amargura com a ditadura até simples
confissão do gênio de que é impotente diante do rolo compressor que é o mundo.
Na enciclopédia, li que “foi escrita para peça de teatro de mesmo nome, que não
tinha a ver com política, mas com a trajetória de um cantor massificado pelo
esquema da televisão”.
De qualquer sorte, Chico traduziu todo
o nosso sentimento de incompreensão diante das permanentes oscilações do
planeta ao nosso redor, castrando sonhos, impedindo ações e mudando planos...
“A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar/Mas eis que chega a roda
viva/E carrega o destino prá lá...”
É louco, mas, pura verdade: a jovem
Larissa fazia faculdade, tinha um namorado bonito, família estruturada, tudo
certo, dentro do melhor padrão, queria crescer, ajudar, mas não sabia que o
perigo (de novo) morava ao lado. Os moradores de Bento, Paracatu, Gesteira,
Furquim e outros povoados só queriam concluir mais um dia, curtir a lua,
descansar os ossos e recomeçar tudo na sexta-feira. Entretanto, antes que a
quinta terminasse, se viram num turbilhão de lama e irresponsabilidade,
correram, fugiram, subiram morros, passaram a noite ao relento, sem luz, sem
água, sem comunicação, esperando socorro. Assim como Larissa, aquelas mães de
Mariana, que carregavam os filhos nos braços em busca de abrigo na manhã
seguinte ao pesadelo, não sabem sequer um por cento dos acertos que são feitos
nos gabinetes, das negociatas que substituem fiscalização, prevenção, seriedade
nos negócios.
Ando estarrecido com a indiferença dos
que têm o poder diante da insatisfação quase incontida de seus eleitores. Não
sabem que as pessoas colocam todos em um barco onde estão escritas palavras
impróprias para este espaço. Ninguém aguenta mais! E eles, os poderosos,
continuam em outro mundo, o de faz de contas. Sinto que o acerto está próximo.
Tenho a sensação de que a revolta das pessoas cada vez mais se aproxima da
química de uma represa de rejeitos... Você vai colocando mais, e mais, não
cuida, não monitora e um dia...
Afinal, a mesma “Roda Viva” nos
adverte há meio século: “... A gente vai contra a corrente/Até não poder
resistir/Na volta do barco é que sente/O quanto deixou de cumprir”.
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