terça-feira, 24 de novembro de 2015

NOVELA DA ECONÔMIA (1)



  

José Antônio Bicalho




O ministro da Fazenda Joaquim Levy balança mas não cai. Do choque de egos da semana passada entre Dilma e Lula ficou valendo, até o momento, a autoridade da presidente. “Levy fica onde está”, disse Dilma. E Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no governo Lula, continua no aguardo de uma oportunidade a ser aberta na massa informe e movediça da geleia política para sentar-se na cadeira de Levy.
Joaquim Levy está na Fazenda desde a posse de Dilma para o segundo mandato, em janeiro. Assumiu com o compromisso expresso de fazer o ajuste fiscal, colocar as contas do governo em ordem e combater a inflação. Lula defende sua substituição por Meirelles porque enxerga na atual política contracionista um suicídio para o PT e para seu projeto político pessoal de retornar à presidência.
O raciocínio de Lula faria algum sentido se Meirelles fosse diferente de Levy. Mas não é. Meirelles tem mais traquejo político que Levy. Poderia melhorar as relações da área econômica do governo com o Congresso, o que é importante principalmente para a aprovação da volta da CPMF. Mas Meirelles é tão ortodoxo quanto Levy e não representaria mudança no cerne da política econômica e do ajuste fiscal.
Mas poderia ser diferente? Seria possível uma saída para a política econômica a partir de um nome à esquerda de Levy e Meirelles?
Voltando a 2009
Para responder, pesquisei números macroeconômicos de 2009 para compará-los aos atuais. Isso porque aquele ano também foi marcado pela crise, como agora. Sob o impacto do estouro da bolha do mercado imobiliário dos EUA (crise dos subprimes), afundamos. Foi, porém, um mergulho ligeiro. Já em 2010 saíamos da recessão guindados pelas medidas anticíclicas conduzidas pelo então ministro Guido Mantega (2006/2014). Será que poderíamos fazer algo parecido hoje?
De posse dos números, vamos checar se é verdade que o ciclo das políticas desenvolvimentistas e expansionistas se esgotou e que a deterioração dos indicadores macroeconômicos obrigam à única saída do ajuste fiscal e do mergulho recessivo. Ou se poderíamos, a exemplo de 2009, promover o desenvolvimento a partir da ação do estado. Em primeiro lugar, o tamanho da crise é diferente. Em 2009, o PIB recuou 0,2% e, neste ano, a expectativa é de que caia 3,15% (última pesquisa Boletim Focus, do BC). A segunda grande diferença é o tamanho do problema da inflação. A expectativa para a inflação deste ano é de 10,33%, contra 4,3% no fechamento de 2009.
Temos, também, outra enorme diferença entre os dois períodos. Em 2009, os preços das commodities iniciavam uma curva radical de alta e, hoje, estão no chão. Em dezembro de 2009, o preço do minério de ferro (por exemplo) ultrapassava pela primeira vez a casa dos US$ 100 a tonelada. Hoje está pouca coisa acima dos US$ 50.
Ok. Mostradas as diferenças de ambiente, vamos à comparação dos indicadores da capacidade do governo de ingerir na economia. Ou seja, da capacidade do governo de agir de maneira pró-ativa para induzir o crescimento e tirar empresas da letargia. Amanhã retomamos a partir desse ponto.


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