José Antônio Bicalho
O ministro da Fazenda Joaquim Levy
balança mas não cai. Do choque de egos da semana passada entre Dilma e Lula
ficou valendo, até o momento, a autoridade da presidente. “Levy fica onde
está”, disse Dilma. E Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no
governo Lula, continua no aguardo de uma oportunidade a ser aberta na massa
informe e movediça da geleia política para sentar-se na cadeira de Levy.
Joaquim Levy está na Fazenda desde a
posse de Dilma para o segundo mandato, em janeiro. Assumiu com o compromisso
expresso de fazer o ajuste fiscal, colocar as contas do governo em ordem e
combater a inflação. Lula defende sua substituição por Meirelles porque enxerga
na atual política contracionista um suicídio para o PT e para seu projeto
político pessoal de retornar à presidência.
O raciocínio de Lula faria algum
sentido se Meirelles fosse diferente de Levy. Mas não é. Meirelles tem mais
traquejo político que Levy. Poderia melhorar as relações da área econômica do
governo com o Congresso, o que é importante principalmente para a aprovação da
volta da CPMF. Mas Meirelles é tão ortodoxo quanto Levy e não representaria
mudança no cerne da política econômica e do ajuste fiscal.
Mas poderia ser diferente? Seria
possível uma saída para a política econômica a partir de um nome à esquerda de
Levy e Meirelles?
Voltando a 2009
Para responder, pesquisei números
macroeconômicos de 2009 para compará-los aos atuais. Isso porque aquele ano
também foi marcado pela crise, como agora. Sob o impacto do estouro da bolha do
mercado imobiliário dos EUA (crise dos subprimes), afundamos. Foi, porém, um
mergulho ligeiro. Já em 2010 saíamos da recessão guindados pelas medidas
anticíclicas conduzidas pelo então ministro Guido Mantega (2006/2014). Será que
poderíamos fazer algo parecido hoje?
De posse dos números, vamos checar se
é verdade que o ciclo das políticas desenvolvimentistas e expansionistas se
esgotou e que a deterioração dos indicadores macroeconômicos obrigam à única
saída do ajuste fiscal e do mergulho recessivo. Ou se poderíamos, a exemplo de
2009, promover o desenvolvimento a partir da ação do estado. Em primeiro lugar,
o tamanho da crise é diferente. Em 2009, o PIB recuou 0,2% e, neste ano, a
expectativa é de que caia 3,15% (última pesquisa Boletim Focus, do BC). A
segunda grande diferença é o tamanho do problema da inflação. A expectativa
para a inflação deste ano é de 10,33%, contra 4,3% no fechamento de 2009.
Temos, também, outra enorme diferença
entre os dois períodos. Em 2009, os preços das commodities iniciavam uma curva
radical de alta e, hoje, estão no chão. Em dezembro de 2009, o preço do minério
de ferro (por exemplo) ultrapassava pela primeira vez a casa dos US$ 100 a
tonelada. Hoje está pouca coisa acima dos US$ 50.
Ok. Mostradas as diferenças de
ambiente, vamos à comparação dos indicadores da capacidade do governo de
ingerir na economia. Ou seja, da capacidade do governo de agir de maneira
pró-ativa para induzir o crescimento e tirar empresas da letargia. Amanhã
retomamos a partir desse ponto.

Nenhum comentário:
Postar um comentário