Márcio Doti
Semana mais curta, nem por isto menos
importante. A folga prolongada acabou recheada com a informação da Revista
Época, segundo a qual o Coaf, órgão do Ministério da Fazenda que investiga
operações financeiras suspeitas, encaminhou à CPI do BNDES, da Câmara dos
Deputados, um relatório em que figuras como o ex-presidente Lula, os
ex-ministros Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel aparecem como
responsáveis pela movimentação de mais de R$300 milhões no período de 2008 a
2015. As assessorias se apressaram a informações preliminares, nos moldes
conhecidos, o Instituto Lula se adiantou a dizer que o ex-presidente ganhou
R$52,3 milhões entre 2011 e 2015 em atividades profissionais. O mesmo que
Palocci, que movimentou R$216 milhões entre 2008 e 2015. Pimentel prefere se
manifestar quando tiver conhecimento oficial do relatório do COAF. E Erenice
Guerra nada quis dizer ainda. Interessante como ministros e chefes de Casa
Civil se metem em confusão e os seus chefes não conseguem ver. De qualquer
modo, mesmo com um dia a menos há muito espaço na mídia para quem quiser de
fato se explicar.
A magia da fome
Por falar em explicações, as noites de
Brasília têm servido para afinações incríveis, olha que agora o discurso do ex-presidente
Lula contempla o ministro Joaquim Levy e o seu ajuste fiscal, tem espaço para o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que precisa ser melhor compreendido. É
fundamental incluir nessas conversas o vice-presidente Michel Temer e desfazer
todo esse clima de briga que não convém, principalmente, a quem está com a
cabeça na forca e por qualquer escorregão, lá se vai o pescoço. No discurso do
ex-presidente Lula tem lugar até para um “mea culpa”, um sentido reconhecimento
de que ganharam as eleições com um discurso e depois tiveram que mudar e fazer
o que diziam que não iam fazer. E isso é um fato, disse ele arrematando a
confissão que não é surpreendente, mas até agora não tinha sido admitida assim
com todas as letras. As mentiras dos palanques finalmente foram admitidas, o
que não é grande coisa porque o brasileiro, petista ou não, já sabia porque
acompanhou tudo nos debates, nas peças de campanha, nas promessas e discussões
em que muita mentira foi dita. A reunião que selou toda a estratégia de reação ao
quadro difícil em que a economia vai mal, a política tanto quanto e junto disso
uma crise moral sem precedentes a minar qualquer esforço porque, a cada dia e a
cada hora, surgem fatos novos, constatações novas que mostram o quanto o
sofrimento vivido pelo povo em sua mesa de refeições, nas prateleiras de
supermercado e nas filas do desemprego, o quanto tudo isso está relacionado com
os erros, os enganos, as artimanhas praticadas no poder e pelo poder a qualquer
custo.
A conta continua sendo paga pelos que
menos podem e quanto mais demagogia, quanto mais gastos forem realizados para
sensibilizar, para angariar simpatizantes, mais sofrimento haverá. De tudo o
que foi dito, tudo o que se organizou como reação, os desafios mais graves
ficaram para depois. Ficaram para depois os planos para curar a economia,
reacender a prosperidade. Porque, tristemente, nada disso será obtido num toque
de mágica. Quanto mais mágica, quanto mais lábia, mais sofrimento.
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