Defesa de Delcídio é um
atentado à inteligência
Josias de Souza
Durou cerca de quatro horas o depoimento do senador Delcídio Amaral
(PT-MS). Ele foi interrogado por dois procuradores da República e um delegado
federal. “O senador deu as explicações de maneira contundente”, festejou o
advogado do preso, doutor Maurício Silva Leite.
Um argumento contundente, ensinam os dicionários, é aquele que não pode
ser contestado ou desmontado. No caso da defesa de Delcídio, a contundência
concentra-se na tese segundo a qual o senador se dispôs a ajudar o delator
Nestor Cerveró, preso em Curitiba, por “razões humanitárias”.
Delcídio esteve com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área
Internacional da Petrobras, para transmitir “uma palavra de conforto e
esperança” à família. Queria atenuar-lhes “a dor e o sofrimento”.
Criou-se uma situação surreal. Há sobre a mesa uma gravação. Nela, a voz
de Delcídio soa oferecendo ao filho do delator: dinheiro, vantagens, tráfico de
influência e uma rota de fuga para o pai-delator. Pois bem. O senador confirma
que a voz é mesmo dele. Mas deseja combinar que nada do que está gravado
aconteceu.
Algum distraído pode esbarrar na fita e colocar para rodar. Mas está
entendido que tudo não passou de uma ação humanitária. E não se fala mais
nisso. Tudo perfeito. Desde que os brasileiros aceitem fazer o papel de bobo.
Ou de cúmplice.
Delcídio não queria obstruir a Justiça nem melar a Operação Lava Jato.
Não, não. Absolutamente. “Isso foi esclarecido no depoimento”, informa o
advogado do senador, 100% integrado ao ambiente de oba-oba.
A tentativa em curso de desconversar, apenas a última e mais inusitada
de uma cadeia de histórias mal contadas envolvendo personagens enrolados na
Lava Jato, pressupõe uma conclamação nacional ao sacrifício da inteligência.
A exemplo de Eduardo Cunha, que enriqueceu vendendo carne enlatada para
a África, Delcídio pede que a investigação dos seus podres só avance até o
limite do conveniente.
O senador terá de prestar novos depoimentos. Ainda não foi interrogado
sobre a dinheirama que ofereceu à família Cerveró em nome do banqueiro André
Esteves, também interessado no silêncio do delator —coisa de R$ 50 mil por mês,
mais R$ 4 milhões dissimulados na forma de honorários para o advogado da
família.
Não será fácil acomodar tanto dinheiro dentro do espírito humanista de
Delcídio. Mas o senador conta com a disposição inesgotável do brasileiro de se
fingir de idiota.
COMENTÁRIO:
Jocimar Barbosa
"Atentado a inteligência" é
sim, mas parem pra pensar em quem se encaixa no perfil "inteligente"
hoje em dia. Somos um país com mais de 75% de analfabetos funcionais, temos 55
milhões (25% da população no bolsa família) votando pensando em não perder a
"boquinha". Que pais "inteligente" elege uma pessoa com
passado terrorista. Se a maioria da população realmente tivesse alguma inteligência,
estaria ha anos questionando aquele que tem um dedo a menos sobre suas
mentiras. O pais é "burro" e não ta nem ai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário