Márcio Doti
Um dos graves problemas da vida
política brasileira é esse calendário com eleição ano sim e ano não. Era para
ser tudo junto, eleições casadas com todas as vantagens possíveis. Os partidos
teriam um só discurso, os palanques teriam que mostrar coerência e o país
economizaria bastante.
Sabemos que eleição custa muito
dinheiro. E ainda há um outro fator importante: o ano eleitoral tem suas
decisões fortemente afetadas pelo processo, pela demagogia que se instala com
ímpeto maior, fazendo até mesmo com que muita coisa fique sem decisão para não
prejudicar os resultados eleitorais. Aos políticos interessa, que num ano,
deputados, senadores, governadores e presidente trabalhem pelos prefeitos e
vereadores, e no outro, aconteça exatamente o contrário. Isso pode ser muito
bom para os políticos, mas não é para o país em nenhum aspecto. Tivemos grandes
oportunidades para mudar isso quando se ensaiou essa reforma política que veio
apenas com alguns casuísmos, alguns retoques que nem de longe podem ser
considerados como uma verdadeira reforma política, aquela de que o país está
mesmo necessitado.
O discurso dos palanques
O mundo da política está se arrumando
para viver os palanques do próximo ano com o mesmo entusiasmo de sempre. As
mesmas composições, grupinhos, discursos, nunca se muda tanto o Brasil para
melhor do que nos períodos de campanha eleitoral. O PT, por exemplo, segundo
seu presidente Rui Falcão, pretende se valer da defesa do partido como
motivação central para seu discurso nas campanhas eleitorais. Muito
provavelmente fará papel de grande vítima, coitadinho, como se não tivesse sido
ele próprio a armar toda essa confusão da qual não consegue sair porque se
misturam, no mesmo caldeirão, uma imensa crise econômica como o Brasil jamais
havia visto, e mais uma crise política que se mistura com uma crise moral de
abalar os alicerces da sociedade brasileira.
O PT estragou a economia, pensou que
faria papel de herói ao distribuir dinheiro, favores, tudo o que podia
arregimentar com recurso gasto em demasia, a tal ponto que desregulou as
engrenagens da economia e enfiou todos nessa imensa confusão. Agora, será
fantástico posar de inocente e de vítima durante o ano eleitoral para angariar
a compaixão e quem sabe a solidariedade dos eleitores.
Falta dizer como é que o partido fará
isso com o país, mergulhado ainda na crise econômica que consultores e
especialistas do sistema bancário estão estimando que vai durar uns dois anos,
se é que seremos capazes mesmo de praticar um ajuste fiscal com ministro Levy,
e resistindo aos arroubos demagógicos de inspiração de Lula e mais o pipocar
desses novos prenúncios de escândalos e dos resultados das operações, das
delações, de tudo o que vai para o foco das eleições e para os momentos que vão
anteceder os palanques. Provavelmente, as forças no poder vão tentar se
beneficiar de Olimpíadas. Mas se o quadro do próximo ano for mesmo esse que os
especialistas pintam, vai ser muito difícil fazer pose de coitadinho se o
eleitor estiver em casa, sem emprego e com dificuldades para levar comida à sua
mesa.

Nenhum comentário:
Postar um comentário