Márcio Doti
Isto é o mesmo que dizer da
impossibilidade de se fazer qualquer tipo de acordo. Por mais que a democracia
deva ser um ambiente de discussão, entendimento e embate, há fases em que
acordos envolvem sempre uma vassoura e um tapete. Está visto que chegamos a um
ponto muito delicado da vida nacional. Há erros por toda parte, os que lidam
diretamente com a lama espalhada estão a dizer que debelar a corrupção é como
enxugar gelo. Pode ser. Se estão dizendo isso os que têm contato direto com
casos, situações e panoramas abrangentes, então é porque devemos acreditar. O
que não significa que devemos desanimar. Não vem ao caso, e parece não haver,
também desvios, atalhos e variantes que nos permitam escolher.
Estamos encerrando um ano em que R$
120 bilhões foram enfiados no orçamento na base da pressão. Saímos do
maravilhoso sonho de um superávit qualquer para um rombo desse tamanho. Algo
para ser recuperado só Deus sabe quando. Estamos gastando o dinheiro que não
temos, estamos gastando recursos de fundos que não pertencem ao país, são de
grupos, ainda que grandes como o dos trabalhadores que estão ficando sem R$ 8,5
bilhões de seu FGTS, dinheiro que não vai voltar, foi tomado a fundo perdido
para uma causa muito nobre: a de construir casa para o povo. Mas uma causa
nobre não justifica dano tão grave ao dinheiro de milhões de trabalhadores que
podem chegar à velhice sem receber o que depositaram ao longo de suas sempre
penosas jornadas de trabalho. Onde existe um dinheiro parado, mesmo que seja o
dinheiro que não pertence ao governo ou pelo menos não está ao seu alcance,
dá-se um jeito, vota-se uma lei, e como os depósitos judiciais, o dinheiro vai
para o alcance do governo. Tal e qual as pedaladas, o dinheiro doFAT.
Sem falar no grande rombo que foi
provocado pelo deslocamento de dinheiro que saiu do Tesouro e foi para os
cofres do BNDES, para ali ser emprestado a juros mais baixos do que o governo
toma, sob o argumento de se estar promovendo o desenvolvimento do país. Dinheiro
do BNDES, ou através dele, foi emprestado a países amigos, emprestado ao grupo
JBS que agora acaba de aliviar a Camargo Corrêa, uma das empresas mais atoladas
na Operação “Lava Jato”. A JBF, mantenedora da JBS Friboi adquiriu dela o Grupo
Alpargatas por R$ 170 bilhões.
Há muito mais, todavia, o que importa
agora é rejeitar acordos a não ser os que possamos fazer com Papai Noel em
matéria de esperança, de otimismo, de vontade de ir em frente. Já sabemos,
segundo nos dizem os especialistas, os grandes entendedores, que a crise
econômica vai durar no mínimo dois anos. Sendo assim, ainda que muitos não
queiram, o melhor é aproveitar o tempo para avançar nos consertos que sabemos
indispensáveis. Não chegaremos a lugar nenhum se não arrumarmos a casa, vencendo
a corrupção, a política mal praticada, fortalecendo nossas instituições de
verdade, sem arremedos e sem ilusões.

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