Márcio Doti
A pergunta mais ouvida, nos últimos
tempos, diz respeito ao descrédito de brasileiros quanto a um caminho que leve
ao combate eficaz de tanta sujeira instalada em pontos importantíssimos do
poder. Ao deparar com tantas coisas graves, os brasileiros levam para as
esquinas, salões e lugares de bate-papo as suas inquietações e, praticamente,
um grande receio de que tudo o que está estampado não seja suficiente para
vencer as artimanhas, as redes de proteção, a surpreendente desfaçatez com que
tem procurado escapar os grandes culpados por tudo isto que hoje é um tormento
para as famílias brasileiras. As promessas se foram, o falatório de igualdade e
justiça social tem sido apenas um meio de mascarar grandes golpes como esses
que retiraram do curso normal uma verdadeira fortuna de dinheiro público
repartido entre poucos, deixando a descoberto os tantos e tantos que sonharam
com melhores dias, vida menos dura, realidade menos cruel e se deixaram
encantar.
Nunca o brasileiro foi colocado diante
de algo tão contundente e tão escandaloso. E como o tempo vai passando sem que
se desenrole todo o quadro é natural que por temor ou por descrença ainda
existam muitíssimos a acreditar que tudo pode se acomodar, por mais que isso seja
detestável. Mas se é novidade o que vivemos hoje, se os escândalos têm
dimensões que nunca tiveram, também é fato que vivemos um outro momento,
equipado com outras ferramentas que tornam mais difícil o controle e o contorno
dos obstáculos para ir em frente como se nada tivesse acontecido. Claro que
para alguns a estrada já está traçada, não há como escapar da punição. Porém, o
que querem os brasileiros sérios e sensatos, capazes de pensar nas gerações do
amanhã, é um desfecho de seriedade, de honestidade, capaz de convencer quanto
ao combate do mal e do errado.
O ambiente jurídico, político,
econômico, enfim, todo o quadro que possa aconselhar um impeachment é
paralisado exatamente onde o processo deve começar e se consumar qual seja o
Congresso Nacional, e mais especificamente, a Câmara dos Deputados. Seu
presidente não reúne, no momento, as condições morais e políticas para conduzir
o processo porque sua condição ficou ameaçada e fragilizada desde que
autoridades suíças confirmaram a existência de conta em banco daquele país com
verdadeira fortuna, algo que vem casado com denúncias feitas na Operação “Lava
Jato”.
O que vem em socorro do bem e dos
tantos que sonham com um Brasil livre de tanta imundície é que se o escândalo
tem dimensões jamais vistas no país, também é verdade que hoje reunimos outras formas de
conscientização quais sejam as redes sociais, ainda tão imperfeitas, mas já tão
importantes para auxiliar na montagem do que realmente importa: dar voz e vez
aos brasileiros no exercício pleno e saudável da manifestação, da
reivindicação, da cobrança. Não há outro caminho. Parece não haver lugar para
representantes porque o processo se contaminou e desse modo ficou prejudicado.
É a cobrança, o posicionamento, a firme determinação em cobrar resultados, mudanças
e correções que poderão conduzir aos consertos de que o país necessita.

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