terça-feira, 6 de outubro de 2015

PEDALADAS NÃO É UM GOLPE CONTRA O POVO?



  

Márcio Doti


Onde é que estão os defensores do governo que até recentemente rotulavam de golpismo as tentativas e o discurso de impeachment da presidente Dilma? Golpismo não seria essa tentativa de desclassificar o ministro Augusto Nardes, relator do Tribunal de Contas da União, no processo das pedaladas da presidente no orçamento de 2014? O governo não demonstra qualquer constrangimento ao apelar para essa manobra com o fim claro de evitar uma já anunciada derrota presidencial no processo e, desse modo, a abertura de mais caminho para um pedido de impeachment. Para a presidente Dilma e seus apoiadores petistas não faz a menor diferença se a manutenção no poder se dá dessa forma indecorosa porque, através de manobra, mesmo sabendo que os erros foram praticados e como suprema magistrada do país, o seu papel deveria ser o de combater erros, ainda que praticados por si mesma.
A manobra praticada pela AGU (Advocacia Geral da União) tem também o objetivo de adiar a decisão sobre o processo e, assim, negar às oposições um forte argumento para o pedido de impedimento da presidente. Se a Corregedoria do TCU levar tempo para decidir sobre o pedido do governo, o assunto se arrastará ainda mais já que a decisão do tribunal serve apenas para orientar o parlamento brasileiro, de forma técnica, sobre as práticas contábeis em relação às leis, tendo havido, nesse caso, desrespeito à Constituição, à Lei de Responsabilidade Fiscal e à Lei Orçamentária. Mas é verdade que sem o menor pudor, o presidente do Senado, Renan Calheiros, já anunciou que não tem a menor pressa em colocar o assunto em pauta, independentemente de qual seja a decisão do TCU.
O que fica evidente, entretanto, é que o povo parece ter se cansado apesar dos erros e dos errados seguirem na trajetória de ferir o que convém à moralidade e ao bom senso. Enquanto os absurdos se repetem e ganham novos contornos de desrespeito pela opinião pública, políticos e governo seguem na adoção de caminhos que são escolhidos apenas diante da indiferença da população. O que não se sabe, entretanto, é que reflexos terão essas atitudes nas medições de opinião pública que, por sinal, sumiram! Me lembro que em 2009, ainda no governo Lula, quando a Petrobras enfrentava forte tentativa do Congresso de implantar uma CPI, a empresa contratou escritórios especializados em gerenciamento de crise ao custo anunciado de R$ 50 milhões. Na época, o trabalho parece ter surtido efeito porque a CPI ficou esquecida numa gaveta qualquer.
Agora se anuncia que a Petrobras está contratando por R$ 200 milhões, sem licitação, escritórios de advocacia e de investigação para, segundo se informa, apurar os efeitos da corrupção levantada pela Operação “Lava Jato” na vida da empresa e os reflexos disso nos mercados interno e externo, especialmente no norte-americano. O assunto deve merecer a atenção do Congresso Nacional, embora desde agora a Petrobras venha se negando a prestar informações detalhadas sob o argumento de que pode haver prejuízo nas investigações. Vale acompanhar esse trabalho de custo tão elevado.

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