Márcio Doti
Se juntarmos os fatos de nossa vida
mais recente vamos constatar que o Brasil perdeu a vergonha. Não há o menor
escrúpulo da presidente da República em trocar cargos em ministério pela sua
permanência no palácio, afastando riscos de um impeachment. Isso, apesar de ser
dado como certo que as suas contas não têm condições normais de serem aprovadas
pelo Tribunal de Contas da União. São as tais pedaladas, que segundo se
defendem alguns solidários à presidente, todos fazem, mas que alguns entendidos
rebatem afirmando que ninguém foi tão longe nos abusos.
Refém da situação que criou com os
seus erros à frente do governo, responsável pela enorme crise econômica que
está fazendo o dólar chegar a números jamais atingidos, a presidente Dilma
ainda conta com uma corte amiga, o Supremo Tribunal Federal, que acaba de
desfechar um duro golpe na Operação “Lava Jato”, ao fatiar as ações, e desse
modo, dificultar o trabalho de um magistrado corajoso, o juiz Sérgio Moro, mas
que não pode sozinho, com tantos erros e tantas tentativas de dificultar as
ações quando, em verdade, deveria ser o contrário. Ao juiz de primeira
instância da Justiça Federal que funciona em Curitiba, deveria ser prestada
toda a assistência para que pudesse seguir nesse trabalho de passar a limpo uma
das páginas mais sujas da nossa história republicana. O que fizeram com o
dinheiro da Petrobras, outrora o maior patrimônio do povo brasileiro, é algo
para ser punido com todos os rigores das leis e de onde mais tivermos
organismos de defesa da nação brasileira.
Estamos fazendo de conta que não
enxergamos que os dois últimos tesoureiros do partido que governa o país, e
agora também o nosso estado, foram condenados pela justiça brasileira por
corrupção. Para completar, fingimos não enxergar que passamos uma eleição
inteira com a nossa mais alta corte eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral,
TSE, presidido pelo ministro que foi elevado a essa condição na magistratura
por indicação do PT, partido ao qual serviu como advogado. Quer dizer, o
ministro comparecia aos fóruns e tribunais na condição de advogado do Partido
dos Trabalhadores e na eleição do ano passado já era o presidente da mais alta
corte eleitoral, responsável por presidir todas as ações da Justiça Eleitoral
durante, antes e depois do processo das eleições. Uma situação absolutamente
legal, é preciso ressaltar, assim como legal é o plenário do Supremo Tribunal
Federal ser constituído por oito dos 11 ministros, indicados pelos governos
Lula e Dilma. Não há ilegalidade nessas situações, mas devemos admitir que elas
deveriam ter sido previstas e medidas acauteladoras deveriam ter sido tomadas
para não permitir este cenário agravado, sobretudo, a partir de permitida a
reeleição.
Por último, o país não pode fazer de
conta que não enxerga a estranhíssima substituição do delegado que conduzia a
Operação Acrônimo, poucos dias após a reação intempestiva do governador de
Minas, Fernando Pimentel, investigado ele, sua esposa Carolina Oliveira e seu
amigo, o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, dono do avião
que serviu a viagens de Pimentel e suspeitos, ambos de envolvimento com lavagem
de dinheiro e influência na concessão de empréstimos. O BNDES destinou bilhões
de reais para financiamentos à construtora Odebrecht e à JBS Friboi,
consideradas as maiores patrocinadores das campanhas eleitorais do ano passado.
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