Moro diz que naturalização
da propina é ‘assustador'
Segundo o juiz, corrupção no Brasil atingiu um
nível sistêmico
O juiz Sérgio Moro, que conduz os
processos da operação Lava Jato, disse nesta quinta-feira (24) que a
naturalização da propina em contratos públicos é um fato assustador. O
magistrado falou durante um almoço com empresários na capital paulista. “Às
vezes, há uma certa dificuldade de se obter uma resposta muito clara de porque
se pagava propina. As explicações recorrentes de alguns desses acusados
confessos era de que, simplesmente, era a regra do jogo. Houve, simplesmente, uma
naturalização do pagamento de propina. O que é extremamente assustador”, disse,
em referência aos depoimentos tomados em diversos casos de corrupção em que
atuou.
'Houve, simplesmente, uma naturalização do pagamento de propina. O que é
extremamente assustador”, diz Sérgio Moro
Foto: Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Na opinião de Moro, a corrupção no Brasil atingiu um nível sistêmico.
“Em quatro casos julgados, envolvendo diferentes empresas e diferentes agentes
públicos, foi constatada uma prática que eu trabalhei como corrupção sistêmica,
no sentido de que a acertação de um contrato público envolvia o pagamento,
quase naturalizado, de um percentual de propina”, destacou, em referência a
casos envolvendo corrupção na Petrobras e na Caixa Econômica Federal.
Para mudar essa situação, Moro defendeu uma nova postura, tanto do Poder
Público, como dos agentes privados que negociam com o Estado. “No âmbito das
instituições públicas, é extremamente necessário, não só uma postura firme por
parte das autoridades públicas contra a corrupção, mas também a postura dos
juízes e mais reformas no nosso sistema de justiça criminal. Nosso sistema de
justiça criminal, como eu disse, tem muito do italiano, e é extremamente
moroso”, ressaltou o magistrado, que tem teses acadêmicas sobre a Operação Mãos
Limpas, que combateu a máfia na Itália durante a década de 1990.
Em relação aos empresários, o juiz disse que a iniciativa privada deve
se recusar a pagar por benefícios e denunciar quando houver extorsão. “A
iniciativa privada tem um papel importante em dizer não ao pagamento de propina
em casos de corrupção. É certo que, muitas vezes, o empresário pode ser
extorquido. Mas essas questões têm que ser levadas às autoridades, quando
acontecerem”.
Moro evitou comentar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que
tirou a competência da 13ª Vara de Curitiba, onde o juiz é titular, de
julgar crimes descobertos na Operação Lava Jato não relacionados diretamente à
Petrobras. A decisão foi tomada na quarta-feira (23), pelo plenário da Corte,
em relação ao inquérito 4130, que investiga a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
A determinação, que deve se refletir em outros casos relativos à
operação, foi de que o processo deve ser remetido à Justiça de São Paulo e a
relatoria do caso, no STF, redistribuída aleatoriamente. Até o momento, todos
os processos relativos à Lava Jato eram relatados pelo ministro Teori Zavascki.
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