Cientistas desenvolvem
modelo para ajudar alunos a pensar de forma crítica
Exercício sobre a duração do movimento de um pêndulo foi um dos
destaques do estudo
A imagem do professor que ensina os alunos com desafios práticos para
eles pensarem sozinhos não é só coisa de filme. Segundo pesquisadores das
Universidades Stanford e British Columbia, nos Estados Unidos e Canadá,
exercícios desafiadores são uma ótima forma de ensinar ciência.
Os pesquisadores testaram os exercícios introdutórios de laboratório
dados aos alunos de Física para ver a real eficácia deles. Na prática, os
alunos seguem os exercícios em laboratório para confirmar os resultados dados
no próprio exercício. Para ver a real eficácia, os pesquisadores modificaram os
enunciados para forçar os alunos a chegarem aos seus próprios resultados e conclusões.
Quando os alunos estiveram mais independentes no laboratório, eles melhoraram
em até 12 vezes a forma de encontrar os dados almejados.
Eles descobriram que encorajar os estudantes a tomar decisões a partir
de dados coletados durante cursos de laboratório no primeiro ano da faculdade
de Física melhora a habilidade de pensar de forma crítica. "O mais
importante é que eles vejam que, mesmo ainda sendo estudantes, podem chegar a
conclusões por meio dos dados que conseguem na sala de aula. O papel deles no
laboratório é serem cientistas e descobrir coisas novas para eles e não
confirmar o que já viram na classe", afirma a coordenadora desta pesquisa
na Universidade de British Columbia, Natasha Holmes.
O grupo experimental de 130 pessoas ensinadas de maneira diferente
também foi quatro vezes mais hábil para identificar e explicar os limites dos
seus modelos com base nas informações que coletaram. E ainda conseguiram usar
as mesmas habilidades críticas no segundo ano do curso de Física ao passo que o
grupo de controle (aqueles que receberam os exercícios tradicionais) apresentou
mais dificuldades no segundo ano.
Metodologia
Uma das primeiras experiências feitas pelos pesquisadores foi com um
exercício sobre a duração do movimento de um pêndulo medido com dois ângulos de
amplitude, ou seja, o pêndulo era solto de duas alturas diferentes. Os alunos
que fizeram o experimento da forma tradicional coletaram os dados, compararam
com a equação do livro, corrigiram erros e seguiram em frente.
No curso modificado, os alunos eram instruídos a tomar decisões com base
em comparações. Fazendo o exercício, percebiam que havia uma pequena diferença
nas medições. Primeiro, eles tinham que pensar no que deveriam fazer para
melhorar a qualidade dos dados que estavam obtendo e, depois, como poderiam
melhorar o teste ou explicar a comparação entre o resultado obtido em sala e o
do livro. Entre as melhorias sugeridas por eles estavam: conduzir mais
tentativas para reduzir o erro, fazer com que a superfície em que o pêndulo
estava fosse mais precisa para medir o ângulo, ou mesmo, colocar o aluno mais
rápido para apertar o cronômetro para fazer a medição. Enquanto os dados se
tornavam mais precisos, eles entendiam os processos do trabalho e aumentavam a
confiança em sua informação e sua habilidade de testar resultados previsíveis.
"Ao conseguirem dados de qualidade, eles descobrem que a equação do livro
é aproximada e aprendem uma nova física neste processo", diz Natasha.
Para ela, os estudantes querem ser criativos, donos de seu trabalho e
capazes de pensar e dar sentido às coisas. "É difícil sair do controle,
mas é muito recompensador quando você passa a decisão para os alunos. Isso
significa que você dá espaço para eles falharem, mas também a oportunidade de
superarem essa falha. Gasta mais tempo, mas vale a pena, já que acaba virando
um hábito pensar daquela forma e usar essas capacidades". Ela sugere que
nas Ciências Humanas, por exemplo, os professores poderiam pedir que os alunos
escrevessem ensaios de duas formas diferentes e compararem e descobrir o que
gostaram mais de cada um e produzir um produto final cada vezmelhor.
O co-autor do estudo Carl Wieman, da Universidade de Stanford, enfatiza
que a capacidade de tomar decisões com base em dados está se tornando cada vez
mais importante na formação de políticas públicas e o entendimento de que
qualquer dado real tem um grau de incerteza é muito importante. "Saber
como chegar a conclusões significativas em meio a incertezas é essencial e esse
metódo prepara os estudantes para lidar com a realidade".

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