segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A DESPESA CRESCE MAIS QUE A ARRECADAÇÃO



  

Paulo Haddad



Quando se observa a evolução das finanças públicas no Brasil, há um processo quase irreversível que pode ser observado. A despesa pública está sempre crescendo segundo um efeito cremalheira, uma engrenagem que torna irreversível o retorno à posição anterior. Ou seja, uma vez instituído um tipo de gasto público através de um programa ou projeto governamental, ele irá aparecer em maior ou menor escala em quase todos os orçamentos subsequentes. Essa irreversibilidade pode nascer de alguma iniciativa politicamente legítima e justa ou de alguma iniciativa que esconde algum interesse velado ou politicamente fisiológico. Em qualquer situação, o aumento da despesa vem para ficar, quase sempre.

Como financiar, pois, um gasto público que não para de crescer? A solução dos estamentos político-partidários é monotonamente repetitiva: aumente a carga tributária. Não é de se estranhar, portanto, que a nossa carga tributária tenha chegado a quase 40% do PIB (era de 26% em 1995) e que cada um de nós tenha os rendimentos financeiros de nosso esforço produtivo relativo ao total de mais de cinco meses de trabalho destinados tão somente para o pagamento de impostos, taxas e contribuições para-fiscais aos três níveis de governo.
Não adianta comparar a nossa carga tributária com a de alguns poucos países onde essa carga é muito maior superando os 40% ou até mesmo se aproximando dos 50%. Trata-se de países mais desenvolvidos com uma população mais envelhecida onde o Estado intervém de forma mais intensa para oferecer serviços públicos e meritórios de qualidade diferenciada. É o resultado da opção política dessas sociedades após a II Grande Guerra por um modelo de Estado do bem-estar nas economias sociais de mercado.

O dilema no caso brasileiro está na absoluta incapacidade do nosso sistema político em redefinir a estrutura e a dimensão dos gastos públicos. Há caminhos alternativos para se conceber e implementar um ajuste fiscal pelo lado das despesas públicas, sem prejuízo evidentemente de se iniciar um processo de modernização de nosso sistema tributário para torná-lo mais justo, leve e flexível.

O que fazer? Os procedimentos são mais fáceis de dizer do que de operacionalizar. Reduza significativamente o número de ministérios e de órgãos da administração direta e indireta. Reprograme as políticas públicas e os programas e projetos governamentais, eliminando as sobreposições e os desperdícios de recursos materiais, humanos e institucionais. Sintonize as ações programáticas com as aspirações e as demandas prioritárias dos diferentes grupos sociais. Ou seja, o nó górdio não está no como fazer, mas nas limitações políticas da atual administração do governo federal para fazer a gestão da crise.

É evidente que o Estado brasileiro tem muitas funções para exercer num país com elevada dívida social, com graves desigualdades regionais, com sensíveis perdas na qualidade ambiental, com a indispensável modernização dos sistemas produtivos numa economia globalizada. Mas nada justifica buscar no aumento da carga tributária a solução mais fácil para financiar o aumento da despesa pública que tem crescido muito mais do que a economia ao longo dos últimos 30 anos.
Mark Blyth, economista escocês em livro publicado este ano, afirma que o problema ou dilema do Estado no pensamento econômico liberal é “não podemos viver com ele, não podemos viver sem ele, não queremos pagar por ele”. 

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