José Antônio Bicalho
Enquanto você paga juros mensais de
13% no cartão de crédito e de 10,1% no cheque especial (pesquisa da Anefac de
julho), as montadoras e autopeças pagarão 0,83% nas linhas especiais para
capital de giro e investimento abertas nesta semana pelo Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal.
A diferença absurda fica mais patente
quando anualizamos as taxas. Os bancos cobram de você 334,8% de juros ao ano no
Cartão de crédito e 217,9% no cheque especial. Já as indústrias da cadeia
automotiva pagarão simbólicos 10,4%.
Entendo que se trata de uma política
de socorro a um dos setores mais fragilizados pela recessão, intensivo de
tecnologia e de mão de obra e que abarca milhares de empresas, numa cadeia que
vai do minério à alta eletrônica. Tudo bem que se trate as montadoras de
maneira diferenciada, só não precisava tratar-nos tão mal.
Benefícios e incentivos
Mas não vou voltar à cantinela sobre a
imoralidade dos juros bancários. O que quero é refletir sobre essa reversão da
política de benefícios e incentivos setoriais do governo federal.
Na passagem do ano, com a posse de
Joaquim Levy na Fazenda, todos os benefícios concedidos por seu antecessor,
Guido Mantega, para os chamados setores estruturantes da economia (montadoras,
indústrias de eletrodomésticos, móveis, construção civil, bebidas, alimentação
e outros), setores exportadores e a indústria de um modo geral foram
abruptamente cortados. A prioridade passou a ser geração de caixa do governo
para promoção do ajuste fiscal. Um a um foram caindo as reduções de IPI e IR,
as desoneração da folha de pagamento, os crédito tributário nas exportações e
os regimes tributários especiais.
Mas com o aprofundamento da crise na
cadeia automotiva, Levy teve que dar o braço a torcer. A Caixa anunciou na
segunda-feira a liberação de R$ 5 bilhões até o final do ano em linhas
especiais para o setor. Foi seguida ontem pelo Banco do Brasil, que informou a
colocação de R$ 3,1 bilhões, numa primeira etapa, com o mesmo objetivo de
crédito para capital de giro e financiamento de projetos de investimento para
montadoras e autopeças. Em troca, exigem que não haja cortes de pessoal.
Consumidor fora
Um ponto importante é que, seguindo a
cartilha da atual política econômica, o benefício será puramente financeiro e
não chegará ao consumidor nem ao chão de fábrica. Pelo contrário, o dinheiro
despejado na cadeia automotiva deverá jogar por terra qualquer plano que as montadoras
tivessem de alavancar vendas cortando margens e preços.
Não se trata de crédito para a compra
de automóveis a juro baixo. Portanto, o programa não alavancará vendas nem
animará a produção, e tenho sérias dúvidas de que os empregos estarão de fato
protegidos.
As linhas de crédito representarão
apenas oxigênio para as empresas que estão com a corda no pescoço por conta da
queda abrupta de faturamento. De acordo com o boletim da Anfavea (a entidade
que representa as montadoras) de julho, os licenciamentos de automóveis no
primeiro semestre deste ano caíram 16,5%; de caminhonetes, 24,4%; de ônibus,
26,3%; e de caminhões, 42,2%.

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