quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PARA O POVO NADA



  

José Antônio Bicalho



Enquanto você paga juros mensais de 13% no cartão de crédito e de 10,1% no cheque especial (pesquisa da Anefac de julho), as montadoras e autopeças pagarão 0,83% nas linhas especiais para capital de giro e investimento abertas nesta semana pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

A diferença absurda fica mais patente quando anualizamos as taxas. Os bancos cobram de você 334,8% de juros ao ano no Cartão de crédito e 217,9% no cheque especial. Já as indústrias da cadeia automotiva pagarão simbólicos 10,4%.

Entendo que se trata de uma política de socorro a um dos setores mais fragilizados pela recessão, intensivo de tecnologia e de mão de obra e que abarca milhares de empresas, numa cadeia que vai do minério à alta eletrônica. Tudo bem que se trate as montadoras de maneira diferenciada, só não precisava tratar-nos tão mal.

Benefícios e incentivos

Mas não vou voltar à cantinela sobre a imoralidade dos juros bancários. O que quero é refletir sobre essa reversão da política de benefícios e incentivos setoriais do governo federal.

Na passagem do ano, com a posse de Joaquim Levy na Fazenda, todos os benefícios concedidos por seu antecessor, Guido Mantega, para os chamados setores estruturantes da economia (montadoras, indústrias de eletrodomésticos, móveis, construção civil, bebidas, alimentação e outros), setores exportadores e a indústria de um modo geral foram abruptamente cortados. A prioridade passou a ser geração de caixa do governo para promoção do ajuste fiscal. Um a um foram caindo as reduções de IPI e IR, as desoneração da folha de pagamento, os crédito tributário nas exportações e os regimes tributários especiais.

Mas com o aprofundamento da crise na cadeia automotiva, Levy teve que dar o braço a torcer. A Caixa anunciou na segunda-feira a liberação de R$ 5 bilhões até o final do ano em linhas especiais para o setor. Foi seguida ontem pelo Banco do Brasil, que informou a colocação de R$ 3,1 bilhões, numa primeira etapa, com o mesmo objetivo de crédito para capital de giro e financiamento de projetos de investimento para montadoras e autopeças. Em troca, exigem que não haja cortes de pessoal.

Consumidor fora

Um ponto importante é que, seguindo a cartilha da atual política econômica, o benefício será puramente financeiro e não chegará ao consumidor nem ao chão de fábrica. Pelo contrário, o dinheiro despejado na cadeia automotiva deverá jogar por terra qualquer plano que as montadoras tivessem de alavancar vendas cortando margens e preços.

Não se trata de crédito para a compra de automóveis a juro baixo. Portanto, o programa não alavancará vendas nem animará a produção, e tenho sérias dúvidas de que os empregos estarão de fato protegidos.

As linhas de crédito representarão apenas oxigênio para as empresas que estão com a corda no pescoço por conta da queda abrupta de faturamento. De acordo com o boletim da Anfavea (a entidade que representa as montadoras) de julho, os licenciamentos de automóveis no primeiro semestre deste ano caíram 16,5%; de caminhonetes, 24,4%; de ônibus, 26,3%; e de caminhões, 42,2%.

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