quinta-feira, 20 de agosto de 2015

DILEMA



  

Márcio Doti


O governo está desagradando ao ministro Joaquim Levy tal e qual dissemos que aconteceria. A cada pressão, cada momento difícil, um governo dependurado, sem sustentação, posto diante de discursos que pedem impeachment como se viu no domingo de manifestação, ou renúncia, como fez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar das muitas críticas que provocou nos aliados da presidente Dilma Rousseff. Quando a presidente cede compromete um pouco mais o já difícil quadro econômico. Quando nega, torna mais difícil o quadro político.

A fragilidade é consequência dos tantos erros, mas aumentam os fracassos que vão sendo vividos dia após dia. O governo continua às voltas com muitas frentes de fragilidade. A começar pelo escândalo da Petrobras, que já mostrou o suficiente para escandalizar e agora alimenta a vitrine da pouca vergonha com as punições impostas pela Justiça. E a opinião pública está à espera de novas descobertas envolvendo outros órgãos e empresas estatais que não escaparam da imensa nuvem de gafanhotos desonestos. Há muitas barreiras a vencer. Mesmo o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, ninguém sabe exatamente quanto custará e nem quando será cobrado. Mas a cobrança um dia virá.

Empresários publicaram notas de solidariedade e apoio à presidente, liderados pelas federações das indústrias do Rio e de São Paulo. Todavia, a conta já chegou: o governo vai liberar dinheiro dos bancos oficiais para acudir as montadoras e outras empresas em dificuldades financeiras, mediante a promessa de não haver demissões. Para as montadoras serão liberados R$ 5 bilhões. Cabe perguntar de onde exatamente vem o dinheiro já que o governo está experimentando saldos negativos de mês para mês. Mas montadoras são apenas o início da fila. Vem junto setores de petróleo, gás, alimentos, eletroeletrônicos, energia elétrica, mineração, telecomunicações, fármacos, químico, papel e celulose, máquinas, equipamentos e construção civil. Vai resolver? Porque esse dinheiro vai sair de algum caixa já vazio. Já experimentando saldo negativo. Por isto, como prevíamos, a medida desagrada o ministro Joaquim Levy.

O Judiciário, outro ponto de pendência, pede reajuste salarial que vai de 16% a 46%. E a presidente está dependurada em diversas frentes: no Tribunal de Contas da União (TCU), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)e no Supremo Tribunal Federal (STF), que deverá decidir algumas pendências. Tudo isto basta para tornar este segundo semestre um tempo difícil. Ninguém se esqueça, contudo, que no próximo ano tem eleição municipal. Aí a cara do ministro Joaquim Levy vai entortar de vez. Porque virão as pressões dos municípios assim como virão as pressões de governadores, de deputados e dos próprios senadores, apesar da boa vizinhança com Renan Calheiros.

De onde sai dinheiro e não se repõe a gente sabe o que acontece: um dia ele acaba. E esse dinheiro que está saindo para socorrer empresas e logo sairá para socorrer políticos, todo esse dinheiro já até não existe. O que a presidente está fazendo é aumentar o vermelho das contas. Daí o vermelho da cara descontente do ministro. Não sem razão. A própria presidente não sabe onde isso vai dar. Apenas cede para respirar depois do sufoco das manifestações e das decisões judiciais que estão por vir. Tudo acontecendo exatamente como previmos. Não há como harmonizar a falta de dinheiro com tanta gente precisando de dinheiro.

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