Márcio
Doti
O governo está desagradando ao ministro
Joaquim Levy tal e qual dissemos que aconteceria. A cada pressão, cada momento
difícil, um governo dependurado, sem sustentação, posto diante de discursos que
pedem impeachment como se viu no domingo de manifestação, ou renúncia, como fez
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar das muitas críticas que
provocou nos aliados da presidente Dilma Rousseff. Quando a presidente cede
compromete um pouco mais o já difícil quadro econômico. Quando nega, torna mais
difícil o quadro político.
A fragilidade é consequência dos
tantos erros, mas aumentam os fracassos que vão sendo vividos dia após dia. O
governo continua às voltas com muitas frentes de fragilidade. A começar pelo
escândalo da Petrobras, que já mostrou o suficiente para escandalizar e agora
alimenta a vitrine da pouca vergonha com as punições impostas pela Justiça. E a
opinião pública está à espera de novas descobertas envolvendo outros órgãos e
empresas estatais que não escaparam da imensa nuvem de gafanhotos desonestos.
Há muitas barreiras a vencer. Mesmo o apoio do presidente do Senado, Renan
Calheiros, ninguém sabe exatamente quanto custará e nem quando será cobrado.
Mas a cobrança um dia virá.
Empresários publicaram notas de
solidariedade e apoio à presidente, liderados pelas federações das indústrias
do Rio e de São Paulo. Todavia, a conta já chegou: o governo vai liberar
dinheiro dos bancos oficiais para acudir as montadoras e outras empresas em
dificuldades financeiras, mediante a promessa de não haver demissões. Para as
montadoras serão liberados R$ 5 bilhões. Cabe perguntar de onde exatamente vem
o dinheiro já que o governo está experimentando saldos negativos de mês para
mês. Mas montadoras são apenas o início da fila. Vem junto setores de petróleo,
gás, alimentos, eletroeletrônicos, energia elétrica, mineração,
telecomunicações, fármacos, químico, papel e celulose, máquinas, equipamentos e
construção civil. Vai resolver? Porque esse dinheiro vai sair de algum caixa já
vazio. Já experimentando saldo negativo. Por isto, como prevíamos, a medida
desagrada o ministro Joaquim Levy.
O Judiciário, outro ponto de
pendência, pede reajuste salarial que vai de 16% a 46%. E a presidente está
dependurada em diversas frentes: no Tribunal de Contas da União (TCU), no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE)e no Supremo Tribunal Federal (STF), que
deverá decidir algumas pendências. Tudo isto basta para tornar este segundo
semestre um tempo difícil. Ninguém se esqueça, contudo, que no próximo ano tem
eleição municipal. Aí a cara do ministro Joaquim Levy vai entortar de vez.
Porque virão as pressões dos municípios assim como virão as pressões de
governadores, de deputados e dos próprios senadores, apesar da boa vizinhança
com Renan Calheiros.
De onde sai dinheiro e não se repõe a
gente sabe o que acontece: um dia ele acaba. E esse dinheiro que está saindo
para socorrer empresas e logo sairá para socorrer políticos, todo esse dinheiro
já até não existe. O que a presidente está fazendo é aumentar o vermelho das
contas. Daí o vermelho da cara descontente do ministro. Não sem razão. A
própria presidente não sabe onde isso vai dar. Apenas cede para respirar depois
do sufoco das manifestações e das decisões judiciais que estão por vir. Tudo
acontecendo exatamente como previmos. Não há como harmonizar a falta de dinheiro
com tanta gente precisando de dinheiro.

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