Márcio Doti
Repercutiu menos do que devia o
anúncio de autorização para venda de 25% da BR Distribuidora, a unidade que
distribui os combustíveis da Petrobras. É a configuração mais evidente do que
aconteceu com a maior empresa estatal brasileira, o maior patrimônio dos
brasileiros. A dívida da empresa cresceu de R$ 351 bilhões do ano passado para
R$ 415 bilhões neste ano, até agora. Essa é a demonstração mais evidente do que
se praticou ali. É parte da consequência de todos os malfeitos que vêm sendo
levantados pela Operação Lava Jato. A Petrobras experimenta uma queda no seu
lucro líquido de 43%. São R$ 5,9 bilhões de lucro, que ainda assim é alto, mas
imaginemos que poderia ser quase 50% maior.
A BR Distribuidora terá 1/4 de seus
negócios transferido para quem der mais. A empresa inteira está avaliada em R$
35 bilhões, todavia, em tempos de crise qualquer patrimônio passa a valer
menos. E nasce daí uma preocupação já assumida pelo Tribunal de Contas da
União, o TCU, que anuncia a disposição de acompanhar toda essa operação de
transferência parcial da distribuidora para a iniciativa privada. Para o caso
de alguém ainda se atrever a aproveitar mais essa chance para levar embora mais
dinheiro do povo. Mesmo com tantos holofotes voltados para a empresa, ninguém
duvide. Basta lembrar que grande parte desses absurdos de propinas aconteceu
durante ou depois do escândalo do mensalão.
Redução do impacto
O Conselho de Administração da
Petrobras já autorizou a transação que, certamente, vem sendo preparada para
acontecer e, desse modo, reduzir o impacto causado por todos esses ataques de
corrupção. E como sempre acontece, quem paga a maior parte da conta acaba sendo
quem menos pode. A grande crise em que mergulhou o governo faz vítima quem
acaba pagando os impostos embutidos em tudo o que se consome. Por sinal,
paga-se uma carga tributária que é das mais altas do mundo. E, apesar de pagar
tanto, a grande maioria de brasileiros recebe pouco. Como os aposentados, que
em função da crise, vão ficar sem receber a metade do 13º salário agora no meio
do ano, como vinha acontecendo há nove anos. É parte do ajuste fiscal que não
deve ter cortado nos cartões de crédito presidenciais, no número de
ministérios, na quantidade de servidores de recrutamento amplo, sequer em parte
do décimo terceiro salário recebido pela presidente e seus ministros.
Algo para ser refletido
Mesmo assim, seja por conveniência,
por sobrevivência ou por boa dose de bom senso, há várias figuras
representativas da sociedade apelando para um grande esforço de soerguimento
nacional, deixando-se essa questão de impeachment apenas para o caso de se
configurar verdadeiramente o quadro em que o impedimento venha a ser o caminho.
Há nesse meio os interesseiros e
oportunistas, mas também os que acham que o problema deve ser enfrentado por
quem o criou, no caso a própria presidente e seus parceiros, em boa parte do
quadro. Se esta é, de fato, a conveniência, é algo para ser refletido
levando-se em conta os efeitos do quanto mais tempo pior ou algo também para
ser meditado, a própria sucessão da presidente.

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