terça-feira, 4 de agosto de 2015

IMPORTÂNCIA DA JORNADA



  

Luiz Hippert


Olha essa história: Um grupo de alpinistas está numa escalada, enfrentando diversos perrengues. Pensa aí numa montanha pra lá de difícil e, de quebra, uma chuva. É, pra que facilitar a vida dos caras, né? Tá bom, vamos jogar um pouquinho de neve também. Mesmo assim, eles estão super determinados e não vão desistir. Não há nada que os detenha rumo ao topo. Estão muito bem preparados para a empreitada e tudo foi feito com planejamento detalhado. Compraram os equipamentos corretos, fizeram a preparação física, todos já andaram treinando por uns montinhos mais básicos que este, até optarem pelo desafio maior.

Corta agora pra reta final, para a chegada. A vista é maravilhosa, e o êxito pede uma comemoração frenética. Depois de abraços efusivos, gritos de guerra e o sabor da vitória eles se preparam para… Descer.

Essa história não é minha, nem mesmo inventada por mim. Já vi de exemplo outras vezes, quando se fala em superação, metas, objetivos e, principalmente, sentido da vida. Na semana passada falei sobre ser feliz, e a trabalheira que dá. Tudo meio com cara de autoajuda, lembra? Aí entrei de leve nesse assunto, da importância da jornada, muitas vezes subestimada, mas, no final das contas, bem mais importante que o destino. Eu sei que tudo isso é meio clichê, e sempre sou o primeiro a reconhecer. Só acho que, clichê ou não, o tema é recorrente em todo mundo que para pra pensar a vida, enquanto vai vivendo.

O tal do “chegar lá” é algo meio efêmero, como comprova o caso aí dos montanhistas. Após a conquista do topo, com a sensação de felicidade e dever cumprido, o que resta? Aquele momento é somente a chave de ouro que coroa um objetivo. O que conta mesmo é a vivência de todo o processo, além do sabor das recordações. Mais ainda, os caras adquiriram histórias pra contar. E vamos combinar? A vida contada costuma ser até mais legal do que quando vivida, o que, aliás, foi o tema da minha primeira coluna aqui no jornal.

Por outro lado, à parte toda a vaidade em saborear e alardear conquistas, o “chegar lá” sempre nos lembra que a vida não para. Nunca está pronta. Se em alguns aspectos isso pode dar desânimo de pensar no eterno recomeçar, em outros pode ser o melhor combustível pra seguir em frente, sabendo que sempre há algo de novo a conquistar. Parece que, quanto mais metas, mais vida.

É isso, todo mundo quer resultados, “todo mundo sonha em ter uma vida boa”, já dizia Lulu Santos. O caso é que não dá pra ficar esperando o dia dessa “vida boa” chegar. Afinal, a comemoração no topo da montanha é uma vez só. Ou uma a cada montanha, pode ser também. O fato é que a vida é o dia a dia, daí que ter uma vida boa talvez seja lembrar isso a todo momento. Abrir os olhos, enxergar ao redor e curtir a escalada, ainda que com perrengues, chuvas e trovoadas.

“O que conta mesmo é a vivência de todo o processo, além do sabor das recordações”

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