José
Eutáquio de Oliveira
De todas as maneiras que há de chegar.
Ela chega. De surpresa, anunciada, de susto, bala ou doce. Do freguês não
escolhe idade, sexo, cor, credo, time, classe social, se é bom ou mal.
Democrática, ascética, ela é republicana até mesmo em países como o nosso,
historicamente marcado pela precedência dos afetos e do imediatismo emocional
sobre a rigorosa impessoalidade dos princípios, conforme denunciou Sérgio
Buarque de Holanda no clássico “Raízes do Brasil”.
Para a moça (?) a regra do jogo tem
que ser rigorosamente cumprida... Não tem coré-coré. Falta na área, mesmo na
área do Corinthians, é pênalti mesmo. E não adianta molhar a mão dos dirigentes
da CFB para mudar o resultado do jogo; fazer acordo com o Renan Calheiros e a
base aliada do governo; colorir a plumagem dos tucanos; pedir aos banqueiros
para passar um pito nela forçando-a a fazer um acórdão. Ela não está nem aí
para as manobras: cumpre o seu dever no dia e hora exatos.
Aliás, irreverente e implacável, ela
chega também para banqueiros, empreiteiros, sindicalistas e calheiros, cunhas,
silvas, neves, marinas e housseffes. Aqui e alhures. Os gregos, bem antes de o
Tsipras lançar a mania de não cumprir acordos, inventaram um mito, Sísifo, que,
em tese, conseguiria desafiar e vencer a danada, ainda que por pouco tempo. O
coitado foi condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até
o topo da montanha. E, toda vez que estava prestes a atingir a meta, a pedra
rolava morro abaixo até o ponto de partida invalidando o esforço despendido. Cá
para nós, além de ficção, isso não é vida que se preze.
A atriz bonitona da novela das oito
tira meleca do nariz vez em quando, a miss universo peida fedido às vezes, o
Papa Francisco já teve tesão de mijo no seminário e muitos prêmios Nobel de
medicina têm cárie. Se essas pequenas verdades desagradáveis “nos equalizam
enquanto humanos” no cotidiano, em um sentido mais amplo, o fato de sermos
mortais e passageiros deveria nos fazer mais humildes e conformados. Não é bem
assim para a maioria.
Para uns, como eu, a danada incomoda;
os outros não estão nem aí para ela. Muitos jovens, por exemplo, não escondem
seu destemor e por isso são colhidos pela implacável, apostando corridas de
carro ou moto nas ruas e estradas da vida. E disputando a bala os pontos de
tráfico de drogas nos morros, exagerando exageros, ou perdendo-se nas vertigens
das guerras provocadas por religiões e ideologias vâns. Para os que atingiram
certa idade, ela chega chegando...
Primeiro, aos poucos. Os cabelos
branqueiam, rugas vincam os rostos, os corpos amolecem, a pressão arterial
desregula, o diabetes sorrateiro toma conta, a solidão fica cada vez mais
solidão. Abrir os jornais torna-se um susto a mais do que o de ler o noticiário
da sandice humana de todo dia. Pode-se dar de cara com a notícia do amigo ou
conhecido que partiu, ou
tomar conhecimento do fim daquela atriz que você amava na adolescência. Simples
assim. É a lei da vida.
Deixa pra lá. Mais vale ouvir o canto do sabiá no cio
à procura da amada e curtir a morena linda que banha sol à beira da piscina do
clube. Mais que tudo, sonhar com uma vida mais serena – ganhar na loteria.
Sozinho. São sonhos. Mas sonhar é melhor que não sonhar.
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