sábado, 29 de agosto de 2015

CERTEZA INEVITÁVEL



  

José Eutáquio de Oliveira




De todas as maneiras que há de chegar. Ela chega. De surpresa, anunciada, de susto, bala ou doce. Do freguês não escolhe idade, sexo, cor, credo, time, classe social, se é bom ou mal. Democrática, ascética, ela é republicana até mesmo em países como o nosso, historicamente marcado pela precedência dos afetos e do imediatismo emocional sobre a rigorosa impessoalidade dos princípios, conforme denunciou Sérgio Buarque de Holanda no clássico “Raízes do Brasil”.

Para a moça (?) a regra do jogo tem que ser rigorosamente cumprida... Não tem coré-coré. Falta na área, mesmo na área do Corinthians, é pênalti mesmo. E não adianta molhar a mão dos dirigentes da CFB para mudar o resultado do jogo; fazer acordo com o Renan Calheiros e a base aliada do governo; colorir a plumagem dos tucanos; pedir aos banqueiros para passar um pito nela forçando-a a fazer um acórdão. Ela não está nem aí para as manobras: cumpre o seu dever no dia e hora exatos.

Aliás, irreverente e implacável, ela chega também para banqueiros, empreiteiros, sindicalistas e calheiros, cunhas, silvas, neves, marinas e housseffes. Aqui e alhures. Os gregos, bem antes de o Tsipras lançar a mania de não cumprir acordos, inventaram um mito, Sísifo, que, em tese, conseguiria desafiar e vencer a danada, ainda que por pouco tempo. O coitado foi condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha. E, toda vez que estava prestes a atingir a meta, a pedra rolava morro abaixo até o ponto de partida invalidando o esforço despendido. Cá para nós, além de ficção, isso não é vida que se preze.

A atriz bonitona da novela das oito tira meleca do nariz vez em quando, a miss universo peida fedido às vezes, o Papa Francisco já teve tesão de mijo no seminário e muitos prêmios Nobel de medicina têm cárie. Se essas pequenas verdades desagradáveis “nos equalizam enquanto humanos” no cotidiano, em um sentido mais amplo, o fato de sermos mortais e passageiros deveria nos fazer mais humildes e conformados. Não é bem assim para a maioria.

Para uns, como eu, a danada incomoda; os outros não estão nem aí para ela. Muitos jovens, por exemplo, não escondem seu destemor e por isso são colhidos pela implacável, apostando corridas de carro ou moto nas ruas e estradas da vida. E disputando a bala os pontos de tráfico de drogas nos morros, exagerando exageros, ou perdendo-se nas vertigens das guerras provocadas por religiões e ideologias vâns. Para os que atingiram certa idade, ela chega chegando...

Primeiro, aos poucos. Os cabelos branqueiam, rugas vincam os rostos, os corpos amolecem, a pressão arterial desregula, o diabetes sorrateiro toma conta, a solidão fica cada vez mais solidão. Abrir os jornais torna-se um susto a mais do que o de ler o noticiário da sandice humana de todo dia. Pode-se dar de cara com a notícia do amigo ou conhecido que partiu, ou tomar conhecimento do fim daquela atriz que você amava na adolescência. Simples assim. É a lei da vida.

Deixa pra lá. Mais vale ouvir o canto do sabiá no cio à procura da amada e curtir a morena linda que banha sol à beira da piscina do clube. Mais que tudo, sonhar com uma vida mais serena – ganhar na loteria. Sozinho. São sonhos. Mas sonhar é melhor que não sonhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...