Há 20
anos surgia o MP3, formato que revolucionou a música
Formato que comprime arquivos de
áudio criou um "boom" de distribuição de músicas pela internet
Prêmios, condecorações e honrarias estão pregadas nas paredes do
escritório do engenheiro alemão Karlheinz Brandenburg. Mas, diz a lenda que,
durante muito tempo, o chefe do Instituto Fraunhofer de Tecnologia de Mídias
Digitais (IDMT), com sede em Ilmenau, foi um dos homens mais odiados pela
indústria fonográfica. Com sua equipe, Brandenburg desempenhou um papel
decisivo no desenvolvimento do formato MP3, que há exatos 20 anos ganhava o
nome que o tornou famoso.
Foto: Thinkstock
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O engenheiro diz que nunca encontrou alguém que tivesse raiva dele, mas
chegou a conhecer vários profissionais do ramo fonográfico que, na época em que
o MP3 ainda estava nascendo, não o levaram a sério. "Muitos dos grandes
executivos da área até achavam que a tecnologia era interessante, mas diziam
que era algo complicado de implementar", lembra. Hoje, o mundo da música é
outro, e devido ao impacto causado pelo MP3, Brandenburg entrou para o hall da
fama da internet.
Os olhos do alemão brilham quando ele fala da virada histórica que o MP3
proporcionou à tecnologia audiofônica, resultado de um misto de coincidências,
trabalho duro e timing: entender o que acontece com a música quando ela é
digitalizada, como o cérebro processa sinais de áudio, reconhecer a internet
como o meio de difusão ideal e negociar com parceiros comerciais e com órgãos
normalizadores internacionais para difundir o novo formato.
"Não éramos os únicos a trabalhar na compressão de arquivos de
áudio, mas os outros cometeram muitos erros", afirma Brandenburg. Ele foi
levado à área por seu orientador de doutorado. "Um analista de patentes
havia lhe dito que isso era impossível, mas nunca se deve dizer isso a um
pesquisador alemão", afirma, em tom de brincadeira. A ideia por trás do
MP3 era permitir o máximo de compressão de arquivos de áudios com perda mínima
de qualidade sonora.
O MP3 permitiu criar arquivos de músicas relativamente pequenos se
comparados aos demais formatos existentes na época, como o WAV. Com o novo
formato passou a ser muito mais fácil enviar esses arquivos pela internet, o
que, em poucos anos, gerou um boom de distribuição de músicas pela rede. Logo
surgiram também os primeiros players portáteis de MP3 e as redes de
compartilhamento de arquivos na internet, como o Napster .
Rico com o MP3
O MP3 trouxe a Brandenburg mais do que reconhecimento. "Segundo meus padrões, posso dizer que sou uma pessoa rica", diz. Pela legislação alemã, os inventores de uma tecnologia participam de seus lucros. A Associação Fraunhofer também recebe uma quantia milionária todos os anos. Fabricantes de equipamentos de som e computadores que utilizam a tecnologia desenvolvida pela associação têm de pagar por ela.
Por um tempo, continuará sendo assim. Na maior parte dos países, as
patentes perdem a validade algum dia. Na Alemanha, por exemplo, isso acontece
depois de 20 anos, o que também é o padrão da Organização Mundial do Comércio
(OMC). Os efeitos do fim de uma patente, contudo, podem ser aliviados pelo fato
de que o Instituto Fraunhofer continua indo adiante no campo da compressão em
áudio, desenvolvendo novas tecnologias.
O brilho nos olhos de Brandenburg retorna quando ele menciona a próxima
aposta. "Será algo como os holodecks de Jornada nas Estrelas. Não será
possível apenas escutar a música, mas vivenciar toda a atmosfera de um clube de
jazz", diz.
Rodeado por alto-falantes
Isso não é algo completamente novo, mas já seria uma novidade se funcionasse. No subsolo do instituto, o gerente de projetos Christoph Sladeczek demonstra o futuro do áudio imaginado por Brandenburg. Sladeczek apresenta a invenção sentado em frente a dois monitores. À esquerda há uma mesa de mixagem virtual, e, na tela da direita, uma cópia da paisagem sonora que é produzida no laboratório.
Em volta, na parede pintada de preto, 12 alto-falantes tocam uma música
pop. Nada de extraordinário à primeira vista. Então, Sladeczek encosta no
mouse, clica num ícone com uma fonte sonora e o arrasta do canto superior
esquerdo até abaixo, à direita. De repente, a cantora está atrás do ouvinte,
que pode caminhar na sala e posicionar ao lado dela.
A tecnologia por trás da paisagem sonora é baseada na síntese do campo
acústico, desenvolvida nos anos 80 na cidade holandesa de Delft. Um computador
envia um sinal de áudio para cada alto-falante da sala e, assim, gera uma
superfície de onda que correspondem a uma fonte sonora natural, como uma voz ou
um instrumento.
Agora Sladeczek está sentado perto da bateria e acompanha, empolgado, a
batida. "O som está mixado de maneira ideal para esta sala e, para isso,
precisamos de muito menos alto-falantes que antes", destaca. Uma versão
anterior do projeto precisava de 81 caixas – o que arruinaria qualquer
decoração de uma sala de estar.

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