Orion Teixeira
Numa mesma manobra, o presidente da
Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), buscou virar o jogo a seu favor e
as manchetes dos sites e telejornais de ontem e dos jornais de hoje. A denúncia
de propina de R$ 5 milhões desapareceu para dar lugar à bravata de rompimento
com o governo e anúncio de que, agora, ele está na oposição. No embalo da
irritação, comprou várias brigas ao mesmo tempo, desde com a presidente Dilma
Rousseff, o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo (PT), o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, a Polícia Federal e até o juiz federal Sérgio Moro. É
uma tática arriscada para quem está sendo investigado. Ainda que tenha muita
força, pode ter exagerado na dose; afinal, tudo tem um limite.
O governo reagiu burocrática e
institucionalmente, tentando minimizar o episódio a uma questão “estritamente
pessoal”, o que não é, e ainda diz confiar no diletantismo de Eduardo Cunha.
Ele não está sozinho, representa boa parte do PMDB e ainda é o presidente da
Câmara dos Deputados, com poderes subjetivamente amplos para criar muitos, mas
muitos problemas para o governo. Esperar o contrário é acreditar em Papai Noel.
A começar pelo acolhimento de um dos pedidos de impeachment, que já foram
protocolados na Câmara. Por si só, o ato é unilateral e independe de adesões,
soando como um tiro de misericórdia.
A questão é saber quantos o acompanham
e como o PMDB (os vários PMDBs) ficará nisso. Os estragos que fez até agora não
os fez sozinhos. Teve amplo apoio de seu partido e da oposição.
Até agora, desde que foi derrotado por
Cunha na eleição da Presidência da Câmara, o governo entrou em parafuso,
perdendo pouco a pouco a agenda política, ministros (Cid Gomes, na Educação, e
Pepe Vargas, na articulação política) e a própria coordenação política. Hoje,
Dilma e seu governo estão nas mãos do PMDB, tendo como timoneiro o
vice-presidente da República, Michel Temer, que é do partido. Sem ele e sem sua
atuação, a crise, que agora chega ao grau máximo, já os teria engolido.
Ao perder tudo isso, o governo aceitou
a condição em nome da governabilidade, evitando criar mais problemas, mas
confiando que Cunha, Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros, não
perderiam a cabeça, como faz, agora, o presidente da Câmara. Como tem muita
coisa a perder, a começar pelo próprio mandato, o governo e a presidente Dilma
têm que sair do “volume morto” (recorrendo à expressão usada pelo ex-presidente
Lula) em que se meteram. Reunir suas forças e encarar a briga, porque a hora do
tira-teima. Caso contrário, Dilma não governará mais. É reagir ou morrer.
Pau que dá em Chico...
Como tudo na política tem múltiplas
possibilidades, Cunha pode se fragilizar também após o episódio e permanecer só
do outro lado, já que implodiu a ponte. Seu passo foi muito arriscado e não
será um recesso de apenas 15 dias que irá esfriar a crise política. Não quer
dizer que, no primeiro dia de agosto, Cunha vai acolher o pedido de impeachment.
Antes disso, tem um arsenal de armadilhas para desgastar a presidente, desde a
instalação de CPIs inconvenientes à convocação de ministros para depor.

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