sábado, 18 de julho de 2015

REBELIÃO DE EDUARDO CUNHA



  

Orion Teixeira




Numa mesma manobra, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), buscou virar o jogo a seu favor e as manchetes dos sites e telejornais de ontem e dos jornais de hoje. A denúncia de propina de R$ 5 milhões desapareceu para dar lugar à bravata de rompimento com o governo e anúncio de que, agora, ele está na oposição. No embalo da irritação, comprou várias brigas ao mesmo tempo, desde com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo (PT), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a Polícia Federal e até o juiz federal Sérgio Moro. É uma tática arriscada para quem está sendo investigado. Ainda que tenha muita força, pode ter exagerado na dose; afinal, tudo tem um limite.

O governo reagiu burocrática e institucionalmente, tentando minimizar o episódio a uma questão “estritamente pessoal”, o que não é, e ainda diz confiar no diletantismo de Eduardo Cunha. Ele não está sozinho, representa boa parte do PMDB e ainda é o presidente da Câmara dos Deputados, com poderes subjetivamente amplos para criar muitos, mas muitos problemas para o governo. Esperar o contrário é acreditar em Papai Noel. A começar pelo acolhimento de um dos pedidos de impeachment, que já foram protocolados na Câmara. Por si só, o ato é unilateral e independe de adesões, soando como um tiro de misericórdia.

A questão é saber quantos o acompanham e como o PMDB (os vários PMDBs) ficará nisso. Os estragos que fez até agora não os fez sozinhos. Teve amplo apoio de seu partido e da oposição.

Até agora, desde que foi derrotado por Cunha na eleição da Presidência da Câmara, o governo entrou em parafuso, perdendo pouco a pouco a agenda política, ministros (Cid Gomes, na Educação, e Pepe Vargas, na articulação política) e a própria coordenação política. Hoje, Dilma e seu governo estão nas mãos do PMDB, tendo como timoneiro o vice-presidente da República, Michel Temer, que é do partido. Sem ele e sem sua atuação, a crise, que agora chega ao grau máximo, já os teria engolido.

Ao perder tudo isso, o governo aceitou a condição em nome da governabilidade, evitando criar mais problemas, mas confiando que Cunha, Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros, não perderiam a cabeça, como faz, agora, o presidente da Câmara. Como tem muita coisa a perder, a começar pelo próprio mandato, o governo e a presidente Dilma têm que sair do “volume morto” (recorrendo à expressão usada pelo ex-presidente Lula) em que se meteram. Reunir suas forças e encarar a briga, porque a hora do tira-teima. Caso contrário, Dilma não governará mais. É reagir ou morrer.

Pau que dá em Chico...

Como tudo na política tem múltiplas possibilidades, Cunha pode se fragilizar também após o episódio e permanecer só do outro lado, já que implodiu a ponte. Seu passo foi muito arriscado e não será um recesso de apenas 15 dias que irá esfriar a crise política. Não quer dizer que, no primeiro dia de agosto, Cunha vai acolher o pedido de impeachment. Antes disso, tem um arsenal de armadilhas para desgastar a presidente, desde a instalação de CPIs inconvenientes à convocação de ministros para depor.

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