sábado, 4 de julho de 2015

INCAPACIDADE DE GOVERNAR



  

Aristoteles Atheniense*



O recente pronunciamento de Lula, num colóquio mantido com líderes religiosos, desaprovando a sua afilhada Dilma Rousseff, que descumpriu as promessas feitas na campanha eleitoral, retrata não só o descompasso surgido entre ambos, como reflete a crise que atingiu o governo atual.

Na percepção do líder operário, o gabinete presidencial “é uma desgraça. Não entra ninguém para contar notícia boa”. Tomado de justa apreensão quanto ao desdobramento da crise política, o ex-presidente indagou de sua sucessora: “Companheira, você lembra qual foi a última notícia boa que demos ao país? Ela não lembrava”.

Nada mais compreensível e razoável, pois é difícil lembrar daquilo que se tornou raro.

Em pesquisa realizada na região do ABC paulista, berço do PT, os números conhecidos revelaram que o índice de aprovação do Executivo é de 7%, enquanto que o de rejeição chegou a 75%.

Embora Dilma houvesse assumido o compromisso eleitoral de “não mexer nos direitos dos trabalhadores”, nem esperou o início do segundo mandato para aumentar os juros. De imediato, impingiu uma alta na Selic, que saiu de 11% e foi para 11,25%. Outras três elevações ocorreram de janeiro a abril, até chegarmos ao patamar de 13,25%, o maior desde dezembro de 2008.

Além de aumentar a Selic, ainda elevou os impostos, combustíveis, energia elétrica, promovendo cortes nos direitos trabalhistas, gerando a recessão e o desemprego.

Foi em razão desse quadro alarmante, sem perspectivas de recuperação, que Lula não hesitou em afirmar que o Brasil conta, presentemente, “com um governo de mudos”. E nessa decepcionante situação, colocou não só o PT, como ele próprio.

Ao mesmo tempo em que Lula chamou Dilma aos brios, sobreveio a detenção dos presidentes das poderosas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, na décima quarta fase da operação Lava Jato.

A nova investigação foi, sintomaticamente, denominada de “erga omnes”, o que significa, para quem tem conhecimento elementar de latim, “contra todos”. E por ser “contra todos”, deverá atingir quem detinha a responsabilidade dos atos cometidos pelos trapaceiros escolhidos para a Petrobras.

A esta altura, a cúpula do PT não afasta a possibilidade de que o seu presidente de honra seja incluído no processo investigatório em curso. Queixa-se de Dilma por não haver blindado o seu criador, evitando que fosse arrastado ao descrédito público, valendo-se do prestígio de seu cargo.

A insatisfação do PT envolve alguns dos auxiliares diretos da presidente, sobretudo o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que não empresta ao escândalo da Petrobras a importância que tem em termos de instabilidade constitucional e um futuro “impeachment”.

Embora o ministro José Eduardo Cardozo simule indiferença ao resultado das pesquisas, sustentando que o Brasil está vivendo um “momento específico que será revertido”, é flagrante o malogro de todos os que reconduziram Dilma ao poder, diante das convulsões que estamos enfrentando.

A partir do momento em que o responsável pela ascensão de Dilma reconheceu que ela cometeu um autêntico estelionato eleitoral, faltando à palavra empenhada junto aos seus eleitores, não há como esperar por uma mudança de rumo no segundo semestre, como anunciou o ministro Nelson Barbosa.

Usando da linguagem do povo, tão sacrificado e descrente, essa possibilidade remota não passa de uma tentativa de “tapar o sol com a peneira”.

* Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do IAMG, presidente da AMLJ

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