Antônio Anastasia
Vontade de mudar o rumo da história,
de acreditar que a vida da gente pode, sim, ser um mundo fantástico, desses de
livro. Uma fantasia. Um mundo que Alice quis conhecer.
Tomando uma poção mágica, Alice, de
Lewis Carroll, que acaba de completar 150 anos de publicação, acredita em um
outro mundo. E para isso diminuiu seu tamanho. Quis entrar pela porta pequena.
Tomo emprestadas as metáforas.
Ao contrário, hoje, temos que nos
transformar em “gigantes” para entrar por uma, duas, três portas. Vivemos o
inverso do mundo de Alice. Não um sonho, um pesadelo.
A burocracia é, hoje, a porta que
temos de atravessar. Ela inviabiliza, dificulta, paralisa, impede-nos de
crescer. Ao invés de gatos, chapeleiros, relógios, cartas, temos papéis e
exigências, xerox, cópias, firmas reconhecidas, cartórios, filas, senhas...
Um mundo sem cor, sem graça, carimbado
por avalistas, recheado de fiadores. Certidão de nascimento, de casamento, de
separação e de bons antecedentes. Nada consta do Tribunal de Justiça. Do
Tribunal Regional Federal. Do TRT, TST, TRE, TSE, STM, CNJ, no Superior
Tribunal de Justiça. E do Supremo também.
Título de eleitor. Comprovante de
votação nas últimas cinco eleições. Carteira de Trabalho, de motorista, de
Identidade. Número de PIS. PASEP. Passaporte. Cópia. Autentica. Comprovante de
endereço? Só luz ou água. Fotos 3 x 4. Camisa preta. Fundo branco. Sem sorrir…
O coelho que atrai Alice lembra que o
tempo urge. Mas quanto tempo não perdemos no Brasil com processos
desnecessários e ultrapassados?!
A realidade
Vivemos uma burocracia negativa e
exagerada, que atrapalha a vida nacional. O país da burocracia e do papel. Do
carimbo e da autenticação. Herança dos tempos da Coroa portuguesa que,
infelizmente, permanece incrustada na administração pública brasileira até
hoje.
Colocamos em um altar a ‘papelada’, na
linguagem singela do nosso cidadão comum. Isso tornou-se um tormento. Gera
atraso, aborrecimento, prejuízos para os cidadãos e para o país.
Tivemos em determinado momento
esforços importantes com a figura do ministro Hélio Beltrão para um processo de
desburocratização. Passado tanto tempo ainda não conseguimos incutir na
sociedade, especialmente nas áreas governamentais, o gosto pela simplicidade.
Tudo é complicado e exige confirmações infindáveis. Não temos confiança nas
relações entre governo e o cidadão.
Enquanto não superarmos isso, na busca
de uma administração pública mais enxuta, mais leve e mais simples,
dificilmente poderemos avançar. Mudar essa realidade não pode ser um sonho ou
uma quimera. Não podemos mais aceitar que a porta emperrada nos impeça de
prosseguir.
Simplificar, desburocratizar, tirar as
amarras, verdadeiros nós górdios, é dever do Estado que pretende ser eficiente,
catalisador do crescimento. É um esforço que se faz urgente. Para o bem de
nossas empresas, de nossa economia, de nossos trabalhadores, de nossa qualidade
de vida e da nossa paciência.
O tempo urge. “Se você conhecesse o
Tempo tão bem quanto eu”, o Chapeleiro falou, “não usaria a palavra desperdício
para se referir a ele. Ele não é qualquer um”. Siga o coelho branco.
COMENTÁRIO
O autor, quando foi governador do
estado de Minas Gerais, não praticou o que escreveu, isto é, não diminuiu a burocracia
no estado.
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