terça-feira, 14 de julho de 2015

ESCOLHA OUTRA PROFISSÃO



Não seja professor

Vladimir Safatle 


Quem escreve este artigo é alguém que é professor universitário há quase 20 anos e que gostaria de estar neste momento escrevendo o contrário do que se vê obrigado agora a dizer. Pois, diante das circunstâncias, gostaria de aproveitar o espaço para escrever diretamente a meus alunos e pedir a eles que não sejam professores, não cometam esse equívoco. Esta "pátria educadora" não merece ter professores.
Um professor, principalmente aquele que se dedicou ao ensino fundamental e médio, será cotidianamente desprezado. Seu salário será, em média, 51% do salário médio daqueles que terão a mesma formação. Em um estudo publicado há meses pela OCDE, o salário do professor brasileiro aparece em penúltimo lugar em uma lista de 35 países, atrás da Turquia, do Chile e do México, entre tantos outros.
Mesmo assim, você ouvirá que ser professor é uma vocação, que seu salário não é assim tão ruim e outras amenidades do gênero. Suas salas de aula terão, em média, 32 alunos, enquanto no Chile são 27 e Portugal, 8. Sua escola provavelmente não terá biblioteca, como é o caso de 72% das escolas públicas brasileiras.
Se você tiver a péssima ideia de se manifestar contra o descalabro e a precarização, caso você more no Paraná, o governo o tratará à base de bomba de gás lacrimogêneo, cachorro e bala de borracha. Em outros Estados, a pura e simples indiferença. Imagens correrão o mundo, a Anistia Internacional irá emitir notas condenando, mas as principais revistas semanárias do país não darão nada a respeito nem do fato nem de sua situação. Para elas e para a "opinião pública" que elas parecem representar, você não existe.
Mais importante para elas não é sua situação, base para os resultados medíocres da educação nacional, mas alguma diatribe canina contra o governo ou os emocionantes embates entre os presidentes da Câmara e do Senado a fim de saber quem espolia mais um Executivo nas cordas.
No entanto, depois de voltar para casa sangrando por ter levado uma bala de borracha da nossa simpática PM, você poderá ter o prazer de ligar a televisão e ouvir alguma celebridade deplorando o fato de o país "ter pouca educação" ou algum candidato a governador dizer que educação será sempre a prioridade das prioridades.
Diante de tamanho cinismo, você não terá nada a fazer a não ser alimentar uma incompreensão profunda por ter sido professor, em vez de ter aberto um restaurante. Por isso o melhor a fazer é recusar-se a ser professor de ensino médio e fundamental. Assim, acordaremos um dia em um país que não poderá mais mentir para si mesmo, pois as escolas estarão fechadas pela recusa de nossos jovens a serem humilhados como professores e a perpetuarem a farsa.

COMENTÁRIOS:
Eu, Moysés Peruhype Carlech, professor aposentado, participo dessa ideia há muito tempo. Não pensem que sou uma pessoa frustrada pela profissão pois também sou formado em Engenharia Mecânica antes de ser professor. Tenho experiência de 15 (quinze) anos em sala de aula e critico mais o sistema brasileiro de ensino que não prioriza e valoriza o professor e não à profissão que uma das mais respeitadas no mundo civilizado.        A não prioridade à educação vai nos levar para o último lugar dos países mais atrasados do mundo.


Infelizmente não é só nas ruas que os professores são ameaçados. Desde o período militar, que via no professorado um segmento profissional opositor ao regime, ser professor tornou-se profissão de alto risco. Hoje viver sob ameaça dentro e fora de sala de aula é uma condição da nossa profissão. Temos que discutir urgentemente o papel do professor na nossa sociedade. Se um cidadão desrespeita um funcionário público pode ser acionado na justiça (artigo 331 do Código Penal) . O professorado deveria usar essa lei para se proteger das constantes ameaças por parte de maus alunos e péssimos país de alunos. Quanto a ameaça do poder político, os professores devem trabalhar em sala de aula contra eles. Afinal somos formadores de opinião.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...