Crises de Brasil e Grécia
se parecem? Veja dados e a opinião de economistas
Luiza Calegari
Stefanos Rapanis/Reuters
Stefanos Rapanis/Reuters
As crises de Brasil
e Grécia são semelhantes? O Brasil corre riscos similares ou tem algo a
aprender com as dificuldades gregas?
Há pontos que
parecem próximos, como desemprego aumentando, problemas
com a Previdência e o pagamento de aposentadorias;
e uma crise de confiança entre empresários, investidores e a própria população.
O UOL ouviu
três economistas para falar sobre isso: o professor da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) Istvan Kasznar; o professor do Instituto de Economia da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) Plínio de Arruda Sampaio Jr.; e o
professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração), da USP (Universidade
de São Paulo), Paulo Feldmann.
Principais diferenças:
- Histórico do PIB desde a crise econômica de 2008
- Controle da moeda nacional
- Causas diferentes para a inflação
- Relação com o FMI
- Nível de desemprego
Principais semelhanças:
- Dependência de capital estrangeiro
- Países reféns dos bancos
- Crise de confiança
PIB, dívida e calote
O professor da FGV
Istvan Kasznar diz que que as duas economias não são comparáveis. A metodologia
utilizada para medição de vários indicadores é diferente, o que já complica a
análise. Mesmo assim, há alguns dados que mostram as diferenças entre os
países:
- No Brasil, o crescimento desacelera (leve alta de 0,1% em 2014).
- A Grécia tem tido PIB negativo de 2008 a 2013, com queda de 26% em 7 anos
- Esse é um quadro de depressão (pior que recessão, baixa atividade econômica)
- A dívida pública grega é de 117% do PIB
- No Brasil, a dívida pública é 58% do PIB, segundo o Trading Economics.
- A Grécia deu calote nas dívidas que têm com o FMI
- O Brasil deixou de dever ao FMI em 2005.
Inflação
A inflação é outro
indicador que não se pode correlacionar, segundo Kasznar: a Grécia tem falta de
demanda (procura por produtos); a procura no Brasil está em alta, é a oferta
que não acompanha.
Além disso, a União
Europeia tem uma taxa básica de juros de 0,05% ao ano; no
Brasil, a Selic está em 13,75%.
Desemprego
Embora o desemprego esteja
preocupando tanto gregos quanto brasileiros, o cenário é bem diferente: lá ele
atinge 26% da população e
mais da metade dos jovens; aqui, o desemprego geral é de 6,7%,
e de 16% para os jovens.
Capacidade produtiva
A infraestrutura
produtiva do Brasil está melhor, diz Kasznar. "Lá a capacidade
produtiva foi desmontada. Você realmente vê fábricas fechadas, prédios
quebrados, aeroporto parado. Não é o que eu vejo no Brasil", afirma.
"A Grécia não é
um país para nos ensinar [sobre como lidar com a crise econômica]. Há anos eles
estão tendo problemas sociais, econômicos e políticos que não são nada
similares aos do Brasil", declara o professor da FGV.
"Fabricação" de dinheiro
A Grécia faz parte
da zona do euro, o que significa que o país não pode controlar a própria moeda.
É o Banco Central Europeu que controla a emissão ("fabricação") de
dinheiro, e as decisões precisam ser tomadas de comum acordo entre todos os
governos do bloco.
O Brasil teria essa
"vantagem" numa emergência: poder emitir dinheiro, sacrificando o
câmbio e a inflação, para estabilizar a economia interna e se recuperar, com
danos menores para a população.
Mas Plínio de Arruda
Sampaio Jr., da Unicamp, diz que essa vantagem é apenas teórica. Na prática,
emitir mais moeda seria contrariar a política econômica: livre flutuação do
câmbio, metas de inflação e superavit primário (poupança para pagar os juros da
dívida pública).
A vantagem de a
Grécia estar na zona do euro é que ela tem apoio internacional (sob certas
regras) para não quebrar, já que não seria interessante aos outros países do
bloco.
"No caso do
Brasil, quando a crise se manifestar na potência máxima, nós não contaremos com
a solidariedade de ninguém", diz.
Reféns dos bancos
Para Paulo Feldmann,
professor da FEA/USP, a principal semelhança entre as duas crises é que ambos
os países foram reféns de bancos privados.
No caso grego,
grande parte da dívida do país com bancos estrangeiros (principalmente
franceses e alemães) já foi perdoada, mas
ainda assim, só 10% do dinheiro do resgate feito pelos órgãos internacionais
foi usado em melhorias para o país. O resto foi para os bancos, segundo um
levantamento do jornal britânico "The Guardian".
No Brasil, Feldmann
cita que o principal agravante do momento de fraqueza econômica é a alta de juros, um
instrumento que ele considera defasado para combater a inflação e impulsionar o
crescimento. Segundo Feldmann, as taxas de juros altas só beneficiam os grandes
bancos.
Dependência de capital estrangeiro
Plínio de Arruda
Sampaio Jr., da Unicamp, defende que o grande mal comum entre os dois países
foi atrelar o crescimento econômico à dependência do capital estrangeiro.
"A causa do
problema é apostar no capital internacional como mola propulsora para o
desenvolvimento, e os dois países fizeram isso. Quando as condições mudam e os
capitais saem, os países enfrentam estrangulamento cambial."
Para ele, o Brasil
tem especificidades graves neste aspecto, principalmente por não ter mecanismos
próprios pra aquecer a economia. O crescimento do Brasil, segundo Sampaio,
depende da economia internacional, que está em crise.






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