terça-feira, 30 de junho de 2015

VOCÊ PREFERE VENDER O QUE?



Rodolfo Gropen



A crise econômica não bate na porta. Sem pedir licença ela já adentrou ao nosso ambiente, pessoal e profissional. Estamos em recessão. Contudo, não podemos considerar que a salvação e a recuperação do nosso país reside cada vez mais incrementado ajuste fiscal. Ocorre ponderar que já houve em 2015 os aumentos do IOF, do PIS/COFINS/CIDE sobre combustíveis, do IPI sobre os cosméticos, do PIS/COFINS sobre a importação, a redução do REINTEGRA, além do PIS/COFINS sobre receitas financeiras; ouve-se dizer da recriação da CPMF, da taxação sobre grandes fortunas, da tributação incidente nos juros sobre capital próprio e do imposto sobre dividendos no mercado de capitais.

Se é correta a necessidade de reequilibrar as contas públicas com vistas a recuperar a credibilidade perdida nos últimos quatro anos, evitando-se a perda do grau de investimento, certo é que se torna altamente nocivo para o Brasil extrair ainda mais recursos da margem das empresas e também dos cidadãos, que arcam com o peso dos tributos. Os cofres públicos abiscoitam do bolso dos contribuintes montantes cada vez maiores que acabarão dilapidados em despesas públicas improdutivas. O Governo teria que se virar com o que arrecada, e aprimorar a qualidade de seus gastos. Simples assim. A carga tributária brasileira gira em torno de 37% do PIB; mas, para além deste ônus, pesa sobremaneira o déficit público.

Não podemos assistir inertes ao Brasil público sufocando e refreando o Brasil privado. Um funesto círculo vicioso que inclui a rolagem da dívida pública e uma crescente taxa de juros - das mais altas das nações detentoras do grau de investimento-, desaguando em uma série de desinvestimentos e no desenvolvimento perverso do desemprego, que infelizmente volta a assombrar as famílias brasileiras. Hoje são cerca de oito milhões de desempregados. Há que se abordar o problema por outro ângulo, que não o aumento de tributos. Majorar impostos e elevar insistentemente os juros em uma atmosfera de adversidade econômica é uma espécie de autodestruição.

A bem da verdade, faltam gestão e planejamento eficazes. Porque não se agride seriamente o desperdício público? Porque o controle de gastos é tão anêmico, frouxo. Porque há tantos problemas na implementação das obras públicas? São incontáveis as incorreções e alterações nas obras de transposição do Rio São Francisco. Para ficar em um episódio mais próximo, nos abala frequentar as obras inacabadas do privatizado aeroporto Tancredo Neves, em Confins. Um monumento à incompetência. Não podemos mais perder tempo no capricho da requalificação dos nossos gastos, também porque a população brasileira, embora hoje jovem e ativa, não tarda a envelhecer. Se ficarmos de braços cruzados, somente testemunhando a história, a previdência pública restará inviabilizada.

Excluindo-se a economia, observo o Brasil passando por um momento particularmente positivo. O Congresso Nacional vive um protagonismo. Não que eu reverencie os seus atuais líderes, mas reconheço o valor do Poder Legislativo forte, tais como o Executivo e Judiciário. O povo brasileiro levantou-se de seu berço esplêndido e foi reclamar nas ruas. O Ministério Público e a Polícia vêm desvendando malfeitos e corrupções pesadas. A Justiça mandando prender gente que nunca se imaginou que poderia ser encarcerada.

Em palavras finais, eu queria mesmo uma nova belle époque, um mundo de prosperidade, segurança e valorização das artes, mas a realidade mostra a crise econômica aqui instalada. Uns optam por chorar, eu por vender lenços.

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