sexta-feira, 5 de junho de 2015

SORRISO NATURAL OU POSTIÇO



  

Manoel Hygino





Os chineses estão chegando, serenamente para efeito externo, como é de seu feitio. Trata-se agora de uma esperança de investimento no Brasil, em época de vacas magras, a despeito das chuvas que vieram, embora tardiamente. Foram bem-vindas.

Para o jornalista, advogado e confrade na Academia Mineira de Letras, Fábio Proença Doyle, os chinos desembarcaram, “liderados pelo primeiro-ministro Li Keqianjg, sendo recebidos com tapetes vermelhos, cumprimentos os mais afetuosos, com direito a sorrisos da presidente Dilma Rousseff e aplausos dos circunstantes. Tradicionalmente bons comerciantes, a viagem ao Brasil não foi apenas para estreitar os laços de amizade que já existem, mais enlaçados ainda na gestão do atual governo”.

Recordo agora Pablo Neruda, também com simpatia pelo regime de lá. O poeta chileno, em visita àquele pedaço de mundo, já dizia que “o povo chinês é um dos mais sorridentes do mundo. Através do implacável colonialismo, de revolução, de grandes fomes, de massacres, sorri como nenhum outro povo sabe sorrir. O sorriso das crianças chinesas é a mais bela colheita de arroz que espalha a grande multidão”.
Curiosamente, Neruda não se omite quanto à simpatia china, o charme, mas afirma que há dois tipos de sorriso no país: “um natural, que ilumina os rostos cor de trigo – é o dos camponeses e do povo em geral. O outro é um sorriso da boca para fora, postiço, que se atarraxa e desatarraxa sob o nariz”.
Certamente, a República Popular da China mudou desde os anos 1970, quando houve rápida liberação econômica com a hegemonia do Estado na produção. A estratégia era atrair investimentos estrangeiros para as cidades exportadoras do Litoral, oferecendo mão de obra barata. Isso redundou em crescimento econômico e na disseminação de produtos chineses pelo mundo; e o Brasil evidentemente estava aí, com uma população crescentemente consumidora e consumista.
Nação mais populosa do planeta e a terceira maior em extensão territorial, a China mantém a política de regime fechado e de partido único, criticado por violação aos direitos humanos.
Mesmo com a “abertura” de Pequim nos tempos mais recentes, uma das maiores ou segunda economia do planeta, o país ocupa simplesmente o 85º lugar no ranking mundial de renda per capta. Um estudo da Universidade Normal de Pequim revela que os 10% mais ricos ganham 23 vezes mais do que os 10% pobres, isso em 2007; em 1988, o rendimento dos mais ricos era 7,3 vezes maior.
Uma diretriz atual é reduzir as disparidades sociais e regionais, zelando pelo meio ambiente e o controle da economia. Em setembro de 2010, acumulava as maiores reservas de moeda estrangeira no mundo. Com isso, o governo mantém o yuan, a moeda chinesa, desvalorizada, tornando seus produtos mais baratos no estrangeiro.
Com a explosão das exportações, cresce a pressão internacional por mudanças no regime cambial. Mas isso são apenas pormenores. Eles estão chegando aqui sob franco entusiasmo dos dirigentes brasileiros, encantados com o sorriso bonzinho dos visitantes que prometem mundos e fundos. Como a situação por cá não anda estas coisas, vamos ver o que acontece, até porque Pequim ficará mais perto de Brasília com a prometida ferrovia interoceânica Atlântico/Pacífico, cujo financiamento eles anunciam.

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