sexta-feira, 5 de junho de 2015

DESESPERANÇA





José Antônio Bicalho


Não existe mais dúvida de que 2015 é um ano perdido. A pequena retração de 0,2% do primeiro trimestre, divulgada na semana passada pelo IBGE, sinaliza apenas o início do mergulho recessivo da economia. É certo que neste segundo trimestre teremos uma redução mais intensa do PIB e poucos economistas ainda apostam num início de recuperação no terceiro trimestre. A dúvida, agora, é se teremos um efeito de arrasto que comprometerá o crescimento também em 2016.
Vamos avaliar alguns indicadores que mostram que as perspectivas não são nada otimistas.
Pela metodologia do IBGE, o PIB (somatório da geração de riquezas do país) é composto pelo consumo das famílias, mais consumo do governo, mais investimentos (das empresas e públicos ou privados em infraestrutura), mais o saldo da balança comercial (diferença entre importações e exportações.

Nos últimos anos, o que segurou o crescimento do PIB foi basicamente o aumento do consumo das famílias. As políticas sócio-distributivas, com destaque para o Bolsa-Família (mas não apenas ele), o aumento real dos salários e do salário mínimo, o pleno emprego e outros fatores geraram um movimento virtuoso de crescimento econômico que durou todos os dois governos Lula e só terminou de fato nesse início de segundo mandato da presidente Dilma.
Mas, somado ao consumo das famílias, tivemos os grandes programas de infraestrutura do governo em parceria com a iniciativa privada, a onda em investimentos privados com crédito farto do BNDES e os investimentos das estatais, principalmente da Petrobras no pré-sal. Também o saldo da balança comercial foi bastante positivo por mais de uma década, favorecido pelo boom de preços das commodities minerais e agrícolas, a despeito da sobrevalorização do real.
Pois bem, o cenário atual é o extremo oposto daquele que experimentamos até meados do segundo semestre do ano passado. O consumo das famílias, com peso de 65% na formação do PIB, está em franca queda, com recuo de 1,5% no trimestre, e sem perspectiva de recuperação por conta do fechamento de postos de trabalho (e principalmente do medo da perda do emprego) e da queda real na renda por conta da inflação.
Sem consumo, o PIB do setor de serviços recuou 1,2% no primeiro trimestre, e o do comércio (atacado e varejo) caiu incríveis 6%. Por falta de confiança na economia, empresas estão adiando investimentos, inclusive estatais. A Petrobras, que era considerada carro-chefe da economia, enfrenta problemas de caixa e está revendo seus planos de investimento.
Resta, então, o governo, que poderia injetar um pouco de ânimo na economia por meio de investimentos e da política monetária. Em função do ajuste fiscal, no entanto, investimentos importantes estão sendo adiados. O governo deve anunciar ainda neste mês um novo pacote de concessões, mas, como se sabe, o início efetivo de obras demanda muito tempo.
Pelo lado da política monetária, tivemos na última quarta-feira novo aumento da Selic (considerada o juro básico da economia), decretado pelo Copom, de meio ponto percentual, para 13,75%, que segue o objetivo de baixar a inflação para 4,5% até o final de 2016, mas afeta o crédito e, consequentemente, o consumo.
Com o esvaziamento da economia (e da arrecadação do governo), e o aumento dos gastos com o pagamento de juros, existe forte dúvida de que o governo conseguirá cumprir a meta de superávit de 1,2% do PIB, que, no final das contas, é o objetivo de toda essa política recessiva.
Então, o que pode nos levar a acreditar numa retomada do crescimento no segundo semestre deste ano ou mesmo no primeiro semestre de 2016? A meu ver, nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...