José Antônio Bicalho
Não existe mais dúvida de que 2015 é
um ano perdido. A pequena retração de 0,2% do primeiro trimestre, divulgada na
semana passada pelo IBGE, sinaliza apenas o início do mergulho recessivo da
economia. É certo que neste segundo trimestre teremos uma redução mais intensa
do PIB e poucos economistas ainda apostam num início de recuperação no terceiro
trimestre. A dúvida, agora, é se teremos um efeito de arrasto que comprometerá
o crescimento também em 2016.
Vamos avaliar alguns indicadores que
mostram que as perspectivas não são nada otimistas.
Pela metodologia do IBGE, o PIB
(somatório da geração de riquezas do país) é composto pelo consumo das
famílias, mais consumo do governo, mais investimentos (das empresas e públicos
ou privados em infraestrutura), mais o saldo da balança comercial (diferença
entre importações e exportações.
Nos últimos anos, o que segurou o crescimento do PIB foi basicamente o aumento do consumo das famílias. As políticas sócio-distributivas, com destaque para o Bolsa-Família (mas não apenas ele), o aumento real dos salários e do salário mínimo, o pleno emprego e outros fatores geraram um movimento virtuoso de crescimento econômico que durou todos os dois governos Lula e só terminou de fato nesse início de segundo mandato da presidente Dilma.
Mas, somado ao consumo das famílias,
tivemos os grandes programas de infraestrutura do governo em parceria com a
iniciativa privada, a onda em investimentos privados com crédito farto do BNDES
e os investimentos das estatais, principalmente da Petrobras no pré-sal. Também
o saldo da balança comercial foi bastante positivo por mais de uma década,
favorecido pelo boom de preços das commodities minerais e agrícolas, a despeito
da sobrevalorização do real.
Pois bem, o cenário atual é o extremo
oposto daquele que experimentamos até meados do segundo semestre do ano
passado. O consumo das famílias, com peso de 65% na formação do PIB, está em
franca queda, com recuo de 1,5% no trimestre, e sem perspectiva de recuperação
por conta do fechamento de postos de trabalho (e principalmente do medo da
perda do emprego) e da queda real na renda por conta da inflação.
Sem consumo, o PIB do setor de
serviços recuou 1,2% no primeiro trimestre, e o do comércio (atacado e varejo)
caiu incríveis 6%. Por falta de confiança na economia, empresas estão adiando
investimentos, inclusive estatais. A Petrobras, que era considerada carro-chefe
da economia, enfrenta problemas de caixa e está revendo seus planos de
investimento.
Resta, então, o governo, que poderia
injetar um pouco de ânimo na economia por meio de investimentos e da política
monetária. Em função do ajuste fiscal, no entanto, investimentos importantes
estão sendo adiados. O governo deve anunciar ainda neste mês um novo pacote de concessões,
mas, como se sabe, o início efetivo de obras demanda muito tempo.
Pelo lado da política monetária,
tivemos na última quarta-feira novo aumento da Selic (considerada o juro básico
da economia), decretado pelo Copom, de meio ponto percentual, para 13,75%, que
segue o objetivo de baixar a inflação para 4,5% até o final de 2016, mas afeta
o crédito e, consequentemente, o consumo.
Com o esvaziamento da economia (e da
arrecadação do governo), e o aumento dos gastos com o pagamento de juros,
existe forte dúvida de que o governo conseguirá cumprir a meta de superávit de
1,2% do PIB, que, no final das contas, é o objetivo de toda essa política
recessiva.
Então, o que pode nos levar a
acreditar numa retomada do crescimento no segundo semestre deste ano ou mesmo
no primeiro semestre de 2016? A meu ver, nada.
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