Simone
Demolinari
Se tem algo que o ser humano tem
verdadeiro pavor é da rejeição. Nesse quesito, parece que todos se igualam –
ninguém quer ser rejeitado. Uns lidam um pouco melhor, mas outros sofrem
profundamente quando saboreiam o gosto amargo de não serem aceitos. Há, ainda,
aqueles que se sentem extremamente ansiosos só de pensarem na possibilidade da
rejeição.
O problema é que este medo pode tomar várias formas e se manifestar de outras maneiras. Todas elas tendendo a evitar o abandono, como por exemplo: Ciúme, vitimização, perfeccionismo, isolamento e sentimento de raiva, entre outros.
O mecanismo é inconsciente e funciona mais ou menos assim:
No caso de ciúme: “se eu demonstrar ciúmes, provoco no outro um medo de me perder e isso faz com que ele me dê mais atenção”;
na vitimização: “se ele sentir pena de mim, irá me acolher com mais afeto em sua vida”;
no perfeccionismo: “se eu for a melhor pessoa, nunca serei abandonado, pois dificilmente haverá substitutos à minha altura”;
no isolamento: “não irei me envolver com mais ninguém, assim me preservo de sofrer”.
no sentimento de raiva: “se eu emburrar, consigo manipular a situação a meu favor e receber afagos”
Tomados por esses sentimentos tóxicos, algumas pessoas vão tentando driblar equivocadamente a rejeição. Tentam, mas não conseguem. Não há como controlá-la, a rejeição está na mão do outro.
Nos dedicar com mais afinco, esforçar para agradar o outro e dar nosso melhor faz parte da dinâmica das relações, afinal de contas, proporcionar prazer a quem se ama é absolutamente saudável. Mas a questão em voga vai além, trata-se especificamente de um esforço estóico para evitar a rejeição. Esforço este que, às vezes, chega ao limite do absurdo.
Certa vez, tomei conhecimento de um rapaz que, na iminência de ser deixado por sua namorada, inventou um diagnostico de câncer. Ele aproveitou que iria se submeter a uma cirurgia de retirada das amígdalas para criar uma gravidade inexistente para a situação. Se vitimizou perante a namorada, expôs seu medo de morrer e solicitou que ela jurasse seu amor naquele momento tão difícil. O rapaz contava até com a conivência de sua mãe para manter a farsa. Com toda essa mentira foi possível prorrogar o namoro por mais dois meses, mas, claro, a verdade veio à tona.
Outra situação, não tão extrema, mas bastante comum de acontecer, são pessoas que não admitem suas más condutas. Em vez de assumir sua parcela de responsabilidade, preferem atribuir ao outro o peso da culpa.
Dificilmente vemos alguém dizendo: “minha relação terminou porque eu fui ausente”, ao contrário, dizem “terminamos porque ela (e) é muito intolerante, nunca está feliz com nada”. Driblam a realidade para tentar proteger seus egos e evitar a rejeição.
Definitivamente, ninguém quer ser rejeitado, sobretudo quem carrega consigo um histórico dessa natureza no ambiente familiar.
Ser rejeitado faz surgir o sentimento de desvalia e, infelizmente, embora não deveria, a maioria das pessoas precisa chancelar seu valor na opinião de terceiros. Diminuem a possibilidade de rejeição, mas mantêm-se condenados ao cárcere emocional — o que é igualmente ruim.

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