Por Mário Quirino
A palavra “não” é uma expressão de
negação, recusa e repulsa. Algumas pessoas têm dificuldades em negar um pedido
e acabam aceitando tudo, sem mensurar as consequências. Uma explicação
plausível é que, desde a infância, as crianças são incentivadas a se
socializarem, estarem à disposição e serem sempre solícitas. Quando os pais
pedem para o filho fazer uma tarefa, eles têm de realizar, assim como na
escola, com os familiares e amigos.
Ao longo do desenvolvimento, é comum as
pessoas enraizarem esse sentimento de que aceitar os pedidos é uma condição
para manter as relações amigáveis e ser aceita pela sociedade. Geralmente, elas
têm medo de decepcionar e, para isso, precisam agradar, se enquadrar em um
grupo e em padrões impostos pela coletividade e serem reconhecidas.
O filósofo Jean-Jacques Rousseau
publicou um livro, em 1762, que contém a frase “Sabe qual é a maneira mais
certa de deixar seu filho infeliz? Acostumá-lo a receber tudo”. Para o
filósofo, quando os pais atendem a todos os pedidos das crianças, os desejos
crescerão e elas terão de lidar com os sentimentos de ansiedade e decepção,
quando a vontade não for atendida.
O trecho ainda é atual nos dias de
hoje e mostra a importância do papel dos pais na educação dos filhos. É preciso
ajudá-los a lidar com as negativas, a fim de torná-los adultos seguros e
flexíveis. As crianças precisam ter limites e entender que os atos têm
consequências e que não podem fazer tudo o que desejam. Dizer “não” é a melhor
forma de ensino e, mesmo que seja difícil, é um ato de amor e de contribuição
para o desenvolvimento do filho.
No ambiente profissional, dizer “não”
é essencial para não ficar sobrecarregado. Muitos não sabem como negar um
pedido do chefe e têm dificuldades em colocar limites. O medo de ser visto como
incompetente ou de ser demitido faz com que alguns profissionais tenham receio
de se posicionar e acabam ficando estressados, frustrados e desanimados.
Dizer “sim” a todas as atividades
delegadas não é a melhor forma de mostrar competências e habilidades. Ao dizer
“não”, o profissional deve fazer com que os outros entendam o porquê da recusa.
A atitude demonstra maturidade profissional, respeito ao trabalho e capacidade
de equilibrar as atividades.
Para muitos, dizer “não” é um desafio.
A grande questão é a hora certa de recusar o pedido e o modo de fazê-lo. A
compreensão do “não” é mais aceitável quando vem justificada.
No caso da criança, quando os pais
explicam o porquê de ela não poder fazer algo ou ter um brinquedo é uma forma
de ensinar que ninguém pode ter tudo. Já no ambiente profissional, o “não”
demonstra a capacidade de discernimento e de realização das atividades com
excelência e competência. As palavras têm poder e saber usá-las é a melhor
maneira de ser compreendido, sem ruídos.
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