Eduardo Costa
Embora, na prática, tenha cuidado do pé de meia de
parentes, um líder religioso de Belo Horizonte costuma dizer “caixão não tem
gaveta” e eu faço questão de manter a assertiva nas ondas da consciência, como
prevenção a tentações. A propósito, meu irmão ouviu de um padre que tentação e
problema a gente tem do dia que nasce ao que morre. Pois, é exatamente a
indiferença de pessoas supostamente esclarecidas a estas máximas que me
perturba. Como pode um homem como o José Janene ter sido tão louco por
dinheiro a ponto de agora, quatro anos depois de sua morte, muita gente ainda
duvidar que seja de verdade.
Ele estava envolvido no “mensalão” e só não foi para a cadeia porque morreu no meio do processo. Do coração. Antes, teve um acidente vascular cerebral e tratou de arranjar uma aposentadoria por invalidez. Depois, reza a lenda, levou Paulo Roberto Costa para a Petrobras e foi um dos mais entusiastas pilantras na roubalheira que assolou a maior empresa brasileira. Agora, o presidente da CPI que promete e não convence que vai apurar, falou na exumação do corpo de Janene. É que ele foi enterrado em urna lacrada – “o que não é comum quando se morre do coração” – e existiriam informações de que o ladrão famoso estaria bem vivo. E morando em país da América Central.
É ou não é demais para nossa capacidade de assimilação? A filha de Janene disse que é um desrespeito para com a família. Até convenceu os deputados a esperarem um pouco antes de desenterrar. E essa moça, será que dorme em paz sabendo que o pai era tão sem limites para por a mão em dinheiro sujo? E os deputados “apuradores”, será que não temem a acusação de que estão procurando um defunto para assumir a culpa, resolvendo assim todos os problemas? A propósito, quem naquela comissão tem coragem de sentar ali depois que o Paulo Roberto Costa foi lá e, dedo em riste, avisou que os culpados são eles, políticos, que querem fazer campanha, precisam de dinheiro, arranjam as maracutaias, caixa 2, essas indecências todas.
Vamos combinar uma coisa: a safadeza está tão impregnada na nossa vida pública, a maioria dos que dizem nos representar tem a ficha tão suja e as promessas de reformas, mudanças soam tão falsas que só faltava mesmo a exumação do Janene. Eu não duvido que ele esteja vivo. Não duvido que a mãe do menino Bernardo – aquele anjo assassinado pelo pai e a madrasta no Rio Grande do Sul – tenha sido também morta pelos que amava; não duvido que o FMI vai voltar, que o Lula quer voltar, não duvido de mais nada. Afinal, minha mãe, na virada do milênio já me avisara: “O mundo acabou... Você é que não viu”.
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