Rafael Sanzio
Com os juros estratosféricos cobrados do consumidor
final subindo ainda mais, quem já anda com a corda no pescoço está diante do
risco de as dívidas se tornarem uma bola de neve incontrolável. Afinal, com
taxas de 220% ao ano no cheque especial e de 345% no rotativo do cartão,
conjugadas com a facilidade de obter crédito em vários bancos, não é difícil o
consumidor cair na armadilha de pegar um empréstimo para rolar outro.
A oferta abundante de crédito, aliada aos juros altos, é o caminho para o superendividamento. Quem está nessa situação compromete mais de 30% da renda com prestações. Mas há quem atinja patamares de 100%, em uma ciranda interminável.
Com a dívida em um ponto crítico, a saída é mudar o estilo de vida. Pagar juros indefinidamente escraviza o devedor e o deixa cada vez mais pobre. Se houver bens a vender – menos a casa da família, claro – para quitar as dívidas, essa pode ser a saída. Cortar despesas supérfluas ajuda. Mas, se mesmo após vender algum bem e cortar despesas o débito continuar impagável, vale tentar renegociar com o credor. Com uma ressalva: só feche acordo se as novas condições couberem no seu orçamento.
É na renegociação que reside o problema. Um ex-executivo do setor financeiro revelou a esta coluna que, mesmo na repactuação das dívidas, os bancos gostam de regras leoninas. Muitas vezes, o gerente tem na manga opções de taxas de juros menores para a dívida renegociada, mas a orientação é continuar esfolando o cliente.
Não é por acaso que a inadimplência – com atraso superior a 90 dias – de créditos renegociados de pessoas físicas ficou em 16% em março, conforme o Banco Central, ante 3,7% no crédito às famílias. Portanto, se a renegociação não estiver boa, jogue duro e demonstre que não pode arcar com condições irreais.
Se nada resolver, é o caso de analisar a possibilidade de uma moratória. Suspender o pagamento por absoluta falta de condições e se preparar para a briga após virar a mesa sobre os credores. Os telefonemas dos cobradores não vão parar, haverá ameaças de processos e até mesmo ações judiciais, com direito a intimações por oficiais de Justiça. Mas se o devedor só tiver a casa da família, os credores não terão o que penhorar.
Com o tempo – e será longo –, os credores vão amaciando diante da perspectiva de não receber e acabam abatendo juros. O devedor não vai pagar menos do que pegou emprestado, e nem deveria, lógico, mas ao menos conseguirá liquidar o débito em condições mais justas.
No entanto, o caminho para pagar todas as dívidas será sofrido e cheio de privações, pois o inadimplente só terá sua renda para fazer compras. Esse calvário, porém, não será em vão. Servirá para aprender a gerenciar o orçamento e não cair na tentação do crédito fácil de novo, quando o nome estiver limpo.
A propósito, a jornalista Mara Luquet publicou em 2006 o livro “Tristezas não pagam dívidas – como domar seus credores e colocar as contas em dia” (Editora Saraiva), que conta uma história pessoal de endividamento e o caminho encontrado para solucionar o problema. Ainda pode ser encontrado nas livrarias e é de grande valia para os superendividados.
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