Malco
Camargos
O ex-diretor da área Internacional da
Petrobras Nestor Cerveró, preso preventivamente em janeiro passado, disse na
última semana que é difícil viver com o parco rendimento de aposentado de R$ 15
mil. Relatou que seu salário na diretoria da estatal era de R$110 mil por mês,
fora as gratificações e, mesmo assim, ele é suspeito de desviar R$ 40 milhões.
Mais ao norte do país, especificamente
no município de Parauapebas, no Estado do Pará, o vereador Odilon Rocha de
Sanção, do Partido Solidariedade, declarou na tribuna da Câmara: “O valor que o
vereador ganha aqui, se ele não for corrupto, ele mal se sustenta durante o
mês”.
O salário bruto do vereador é de R$
10.013,00 e, além desta monta, ele recebe R$ 2.800,00 para custear despesas com
combustível, R$ 1.000,00 para despesas com telefone e tem à sua disposição uma
camionete alugada pela Câmara Municipal.
A relação entre faixa salarial e
corrupção, apesar de propagada em todos os cantos, não encontra evidências
quando analisada a fundo. Nesses dois exemplos, os ganhos dos agentes públicos,
eleitos ou indicados, em nada justificam atos ilícitos na relação com o
dinheiro público. No caso do vereador, seu salário mensal supera o
correspondente a 17 salários mínimos; no caso do ex-dirigente da estatal, o
valor auferido mensalmente chegava a 140 salários.
Em geral, no Brasil, trabalhar na área
pública, principalmente em cargos de chefia ou eletivos, significa o acesso a
recursos de poder e também a salários superiores ao da média da população
brasileira, mas, mesmo assim, são inúmeros os exemplos de desvio de dinheiro,
seja para fins partidários ou pessoais. Portanto, não é o valor do rendimento
que determina honestidade ou desonestidade.
A declaração de Cerveró sobre sua
“parca” aposentadoria, e de Sanção, sobre a dificuldade de viver sem a prática
da corrupção, enfatizam um comportamento relativamente comum na cultura
política nacional. No Brasil, como as pesquisas demonstram, as pessoas sabem o
que é certo e errado e, em geral, partilham um conjunto de valores morais a
respeito da política, mas, mesmo assim, alguns cidadãos não deixam de praticar
certas desonestidades, principalmente quando justificam determinadas
necessidades, sejam elas quais forem.
Para mudar esse aspecto é fundamental
reconhecer que a corrupção acontece tanto entre aqueles que estão no poder,
quanto entre os que almejam estar lá um dia. Atribuir ao outro a
responsabilidade pela situação atual é trabalhar para que esse cenário se
perpetue. Além da autocrítica, é fundamental também o aprimoramento dos
mecanismos de controle que permitam o acesso à informação, a culpabilização
perante a Justiça e a aplicação de penas e sanções.
Nos últimos anos houve, sim, avanços
no que se refere à capacidade de punição de malfeitos na área pública, mas
ainda falta muito na autocrítica e na valorização de bons modos no
funcionamento da política brasileira.
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