terça-feira, 12 de maio de 2015

COISAS DO BRASIL




Malco Camargos

O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso preventivamente em janeiro passado, disse na última semana que é difícil viver com o parco rendimento de aposentado de R$ 15 mil. Relatou que seu salário na diretoria da estatal era de R$110 mil por mês, fora as gratificações e, mesmo assim, ele é suspeito de desviar R$ 40 milhões.
Mais ao norte do país, especificamente no município de Parauapebas, no Estado do Pará, o vereador Odilon Rocha de Sanção, do Partido Solidariedade, declarou na tribuna da Câmara: “O valor que o vereador ganha aqui, se ele não for corrupto, ele mal se sustenta durante o mês”.
O salário bruto do vereador é de R$ 10.013,00 e, além desta monta, ele recebe R$ 2.800,00 para custear despesas com combustível, R$ 1.000,00 para despesas com telefone e tem à sua disposição uma camionete alugada pela Câmara Municipal.
A relação entre faixa salarial e corrupção, apesar de propagada em todos os cantos, não encontra evidências quando analisada a fundo. Nesses dois exemplos, os ganhos dos agentes públicos, eleitos ou indicados, em nada justificam atos ilícitos na relação com o dinheiro público. No caso do vereador, seu salário mensal supera o correspondente a 17 salários mínimos; no caso do ex-dirigente da estatal, o valor auferido mensalmente chegava a 140 salários.
Em geral, no Brasil, trabalhar na área pública, principalmente em cargos de chefia ou eletivos, significa o acesso a recursos de poder e também a salários superiores ao da média da população brasileira, mas, mesmo assim, são inúmeros os exemplos de desvio de dinheiro, seja para fins partidários ou pessoais. Portanto, não é o valor do rendimento que determina honestidade ou desonestidade.
A declaração de Cerveró sobre sua “parca” aposentadoria, e de Sanção, sobre a dificuldade de viver sem a prática da corrupção, enfatizam um comportamento relativamente comum na cultura política nacional. No Brasil, como as pesquisas demonstram, as pessoas sabem o que é certo e errado e, em geral, partilham um conjunto de valores morais a respeito da política, mas, mesmo assim, alguns cidadãos não deixam de praticar certas desonestidades, principalmente quando justificam determinadas necessidades, sejam elas quais forem.
Para mudar esse aspecto é fundamental reconhecer que a corrupção acontece tanto entre aqueles que estão no poder, quanto entre os que almejam estar lá um dia. Atribuir ao outro a responsabilidade pela situação atual é trabalhar para que esse cenário se perpetue. Além da autocrítica, é fundamental também o aprimoramento dos mecanismos de controle que permitam o acesso à informação, a culpabilização perante a Justiça e a aplicação de penas e sanções.
Nos últimos anos houve, sim, avanços no que se refere à capacidade de punição de malfeitos na área pública, mas ainda falta muito na autocrítica e na valorização de bons modos no funcionamento da política brasileira.
 

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