Paulo Paiva
Desde os anos 80 a economia brasileira
apresenta crescimento lento, produtividade estagnada e baixa competitividade no
contexto internacional, principalmente por questões relacionadas ao governo:
excessiva burocracia no setor público, deficiência de infraestrutura, alta
carga tributária, baixo nível de escolaridade e ambiente difícil para negócios.
Essa tendência contrasta-se com aquela
das três décadas anteriores (1950-1980), quando a economia brasileira cresceu a
uma taxa média anual de 7%, com expansão de sua indústria e de sua
produtividade.
Os ciclos da economia brasileira estão
relacionados às condições do ambiente externo e, para melhor entender o
comportamento de seu crescimento, vale a pena examinar as respostas do governo
às crises internacionais.
Dois exemplos de estratégias
equivocadas parecem-me relevantes para se entender o pífio crescimento
brasileiro, a partir dos anos 80.
O primeiro foi no final da década de
70, quando o chamado “milagre econômico brasileiro” foi confrontado com a crise
da economia internacional.
No início dos anos 70, os Estados
Unidos abandonaram unilateralmente a paridade do dólar com o ouro, criando
enorme instabilidade nos mercados de câmbio. Em seguida, os preços do petróleo
e as taxas de juros dispararam.
Enquanto todas as economias do mundo
se ajustaram ao novo ambiente hostil, o Brasil, ao contrário, optou por
ignorá-lo, admitindo ser “uma ilha de prosperidade”. O governo Geisel
(1974-1979), então, lançou um programa arrojado de investimentos públicos sem
recursos assegurados.
Perdeu-se, à época, a oportunidade
para abrir a economia ao comércio externo, privatizar empresas públicas e
deixar o capital privado participar da execução dos projetos do II PND.
O segundo foi o equívoco do governo
petista em não ter entendido corretamente a profundidade da crise
internacional, que não é mais apenas do sistema financeiro privado, mas de toda
a economia global. Particularmente, por acreditar que o aumento nos preços de
commodities seria permanente.
Que “marolinha” que nada.
No ciclo de expansão dos preços de
commodities, perdeu-se a oportunidade para fazer reformas necessárias ao ajuste
estrutural das contas públicas, como da Previdência Social, e para adequar o
modelo de concessão da infraestrutura estimulando a participação do capital
privado. Ademais, para se ter uma política de comércio exterior mais
pragmática.
Vê-se que as semelhanças do governo
petista com o governo Geisel são também nos erros cometidos: um acreditando no
“Brasil grande” e outro, no “Brasil maior”. Ambos apostando no consumo interno
ilimitado, sem considerar as restrições da economia. Ambos acreditando em suas
próprias propagandas.
Autoengano que está custando caro ao
país.
Se essas oportunidades não fossem
perdidas, certamente a economia brasileira estaria em outro patamar.
Professor da Fundação Dom Cabral, foi
ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC
Nenhum comentário:
Postar um comentário