O Dia da Educação e a Pátria Educadora
Daniel Cara
Vinte e oito de
abril é o Dia Internacional da Educação. A data faz referência à conclusão do
Fórum Mundial de Educação, realizado na cidade de Dakar no Senegal, entre 26 e
28 de abril de 2000. Na ocasião, representantes de 180 países estabeleceram
seis metas com o objetivo de disseminar o acesso à educação de qualidade ao
redor do mundo. O prazo para tanto era 2015.
Passados quinze
anos, ocorreram avanços. Contudo, eles foram insuficientes para o cumprimento
das metas em quase todos os países. No Brasil, a Unesco considera que apenas duas
das seis metas foram cumpridas. No entanto, o Inep (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) órgão vinculado ao
Ministério da Educação, discorda dessa avaliação: cinco das seis metas teriam sido alcançadas.
Pelos critérios utilizados no último
relatório de acompanhamento o Brasil cumpriu as metas acordadas de
universalização da educação primária, que corresponde ao período do 1º ao 5º
ano do ensino fundamental, e a de garantir a paridade de gênero também na
educação primária.
Para o Inep, o país descumpriu apenas a
quarta meta que é a redução em 50% do analfabetismo de adultos. A taxa de
analfabetos com mais de 15 anos passou de 12,4%, em 2001, para 8,7%, em 2012.
Para cumprir a meta, essa taxa deveria ter caído para pouco mais de 6%.
"Fechamos a torneira do analfabetismo no Brasil. Hoje existe acesso à
escola e os que têm acesso não são mais analfabetos" defende o instituto.
Segundo o Inep, os analfabetos são
pessoas mais velhas e neste caso o importante "é comemorar" o que foi
feito. O presidente do Inep, Francisco Soares, destaca a necessidade de se
criar políticas para um grupo de pessoas mais idosas que não são muito
facilmente levadas a procurar a escola.
Como 2015 é o
prazo final para o cumprimento das metas EPT (Educação para Todos), uma nova
edição do Fórum Mundial de Educação ocorrerá na Coréia do Sul, em Incheon,
entre 19 e 22 de maio desse ano, envolvendo representantes dos Estados
Nacionais e da sociedade civil. Espera-se que o resultado seja melhor. Alguns
consideram que a situação mudará pouco até 2030, prazo final para as novas
metas que estão sendo redigidas. Outros trabalharão para cumpri-las.
O Plano Nacional de
Educação e a Pátria Educadora
No caso brasileiro e
diante dos debates prévios, o cumprimento do novo PNE (Plano Nacional de
Educação) será suficiente para o Brasil alcançar praticamente todas as metas
que devem ser estabelecidas na Coréia do Sul. Aliás, as leis educacionais
brasileiras são boas, mas estão distantes de serem cumpridas. E muitas vezes
sequer são consideradas.
Ontem (27/4), estive
no escritório da Presidência da República em São Paulo. Fui participar de uma
reunião para discutir a proposta “Pátria educadora: a qualificação do ensino
básico como obra de construção nacional”, que busca fundamentar o novo lema
governamental. Trata-se de um documento preliminar, redigido pela SAE
(Secretaria de Assuntos Estratégicos), chefiada pelo Ministro Roberto
Mangabeira Unger.
Quando a presidenta
Dilma Rousseff anunciou que o mote de seu governo seria “Brasil: pátria
educadora”, a comunidade educacional compreendeu que o atual mandato
(2015-2018) priorizaria a implementação do novo PNE (2014-2024).
Meses depois, surge
uma proposta que apresenta novas compreensões para quatro agendas que constam
do PNE: 1) construir o federalismo cooperativo no ensino básico, 2) mudar o
paradigma curricular e pedagógico do ensino básico, 3) [valorizar/mobilizar]
diretores e professores e 4) [incetivar/produzir] tecnologias e técnicas.
O federalismo
cooperativo perpassa todo o PNE, especialmente na regulamentação do SNE
(Sistema Nacional de Educação), que deve ser alicerçado na implementação do
CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial); além de outros tópicos relevantes, como o
estabelecimento do Sinaeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica).
O novo paradigma
curricular consta das metas e estratégias que tratam da Base Nacional Comum
Curricular. A valorização de todos os profissionais da educação é tema de
quatro das 20 metas do plano. E as “tecnologias e técnicas” também são
trabalhadas em diversas de suas estratégias. Inclusive hoje (28/4), participo
de audiência pública na Câmara dos Deputados dedicada a analisar
a regulamentação de cada uma das agendas institucionais do plano.
Embora a motivação
seja positiva e fruto de demanda presidencial, o conjunto do texto da SAE
preocupa. Por sorte, o Ministro Roberto Mangabeira Unger se dispôs ao diálogo e
reforçou que o documento está aberto a sugestões. Em um momento do encontro
reforçou que a tradição do Estado brasileiro é se encastelar, não ouvir
críticas, com o receio de alimentar oposições. E ele considera, com razão, que
isso impede o fortalecimento democrático do país e das próprias políticas
públicas.
Diante desse
espírito, apenas ficando em questões gerais do documento e sem entrar em temas
mais delicados, repito aqui o que sugeri no encontro de ontem: 1) é preciso
contextualizar toda a proposta sob a égide e os desafios de implementação do
PNE; 2) é fundamental debater exaustivamente o texto com o Ministério da
Educação.
O dia 28 de abril de
2025
Implementar o PNE é
urgente. Daqui a dez anos, no Dia Internacional da Educação de 2025, não será
mais aceitável que o Brasil continue simplesmente dizendo que é um país que
avança em termos educacionais, mas permanece distante de consagrar o direito à
educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos e todas.
Cumprir o novo plano
educacional é o primeiro passo para o país virar a página e construir uma
nova narrativa. Especialmente depois de tanta mobilização da sociedade
civil para conquistar, sem vetos, a sanção de seu novo PNE. Todo esse trabalho
precisa ser considerado.
Daniel Cara, 37 anos, doutorando em Educação (USP) e
mestre em Ciência Política (USP). É coordenador geral da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação e membro do Fórum Nacional de Educação.
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