Após cair 40% na Bolsa,
Petrobras tenta reação com balanço
Nos cinco meses em
que ficou sem balanço auditado, as ações da Petrobras viveram numa
montanha-russa. O resultado foi uma variação de até 40% no valor de mercado - a
multiplicação do preço da ação pelo total de papéis -, conforme levantamento da
consultoria Economática, feito a pedido do jornal O Estado de S. Paulo.
Recentemente, a empresa recuperou parte do valor em Bolsa, mas, além do
balanço, previsto para ser divulgado nesta quarta-feira, 22, no fim do dia, a
estatal precisará apresentar consistência nas estratégias e dados financeiros
para se reerguer.
O valor de mercado
da companhia saiu de R$ 173 bilhões, em novembro, para R$ 105 bilhões, no fim
de janeiro, queda de 40%. A forte queda nesses cinco meses ocorreu após a
empresa indicar que seus ativos tinham valores inflados em R$ 61,4 bilhões
devido a falhas, ineficiência e corrupção nos contratos. Sob a expectativa de
finalmente apresentar dados financeiros auditados, a empresa alcançou o valor
de R$ 171,6 bilhões, na segunda-feira. O valor ainda é muito abaixo do auge,
quando a estatal atingiu R$ 510,4 bilhões na Bolsa, em maio de 2008. O balanço
do terceiro trimestre de 2014 foi suspenso em 13 de novembro, véspera do limite
legal para publicação dos resultados. Desde então, o volume de negócios da BMF&Bovespa
cresceu 4,07%, enquanto o valor das ações preferenciais (PN, sem voto) da
companhia caíram 4,37%, segundo a Economática. As ações ordinárias tiveram alta
de 1,07%.
Notícias ruins
As oscilações dos
papéis da companhia se devem a uma "espiral" de notícias ruins,
segundo o analista independente Pedro Galdi. "Já havia uma queda das ações
com o represamento do preço de combustíveis por três anos, mas a Lava Jato
trouxe mais dificuldade de caixa e afetou os projetos da Petrobras. Ela entrou
em parafuso, o mercado perdeu a confiança nos indicadores", avalia.
O adiamento do
balanço ocorreu após a PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusar a auditar os
dados, sem que as investigações sobre suspeitas de corrupção fossem
aprofundadas. Parte dos títulos de dívida emitidos pela Petrobras traz a
exigência de publicação de dados financeiros auditados. Sem eles, os credores
podem exigir o pagamento antecipado.
Em relatório
divulgado ontem, a agência de classificação de risco Moody's avaliou que
afastar esse risco é o principal efeito da publicação do balanço previsto para
hoje. "Nosso cenário base é que, após a publicação dos balanços auditados,
a situação em torno da companhia tenderá a se estabilizar", diz um trecho
do relatório.
Com isso, segundo a
Moody's, caem as chances de ocorrer um evento como um calote, que poderia
exigir socorro por parte do Tesouro Nacional.
Sem a antecipação de
dívida, não haveria "qualquer necessidade de curto prazo de apoio à
companhia, evento que elevaria os desafios financeiros do governo". Na
tentativa de reverter os danos, a companhia anunciou a criação de um comitê de
investigação sobre as denúncias, bloqueou de suas licitações 25 empresas sob
investigação da Polícia Federal, e criou a diretoria de governança. As medidas
não foram suficientes para estancar a perda de valor. "Nesse período, a
queda acentuada da cotação do petróleo levantou a dúvida se o pré-sal seria
viável, e gerou especulação", complementa Galdi.
A dúvida que
persiste é qual o valor total de recursos da companhia que foram desviados e,
portanto, devem ser descontados dos ativos contabilizados no balanço. Em 27 de
janeiro, a gestão de Graça Foster indicou que os ativos da companhia estariam
inflados em R$ 61,4 bilhões devido à ineficiência, depreciação e corrupção. Em uma
semana, a estatal perdeu R$ 23 bilhões em valor de mercado e toda a diretoria
renunciou.
Analistas esperam
uma baixa contábil entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões, valor descontado
diretamente do lucro. Assim, mesmo com aumento da produção e reajuste no preço
de combustíveis, o desconto poderá limitar o pagamento de dividendos. A
petroleira viu ainda piorarem seus indicadores com a perda do grau de
investimento da Moody's, o que restringiu seu acesso a financiamento. A estatal
também está pressionada pela alta do dólar.
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