Pacote do MPF sobre
corrupção divide partidos no Congresso
Proposta prevê partidos envolvidos percam seus
registros, além de aumentar pena de prisão dos envolvidos de 12 para 25 anos
Cristiane Jungblut, Isabel Braga,
Júnia Gama e Chico de Gois
BRASÍLIA - Os
líderes dos partidos reagiram com cautela às propostas do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
que prevê, em casos de corrupção, que os partidos envolvidos percam
seus registros, além de aumentar pena de prisão dos envolvidos de 12 para 25
anos. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), questionou a proposta
de se fechar os partidos. Para os parlamentares, essa não é uma competência do
Ministério Público.
— O Ministério
Público não tem competência para fechar partidos. Apoiamos todos os projetos
que aperfeiçoam o sistema partidário brasileiro, mas cada Poder com suas
competências democráticas e constitucionais — disse Cunha Lima.
Para o tucano, as
propostas mais drásticas, como tornar corrupção crime hediondo, são um reflexo
do momento em que vive e onde a sociedade exige punição para o escândalo da
Petrobras, investigado na Operação Lava-Jato.
— O momento está
exigindo uma postura mais drástica como essa — disse Cunha Lima.
O líder do PMDB na
Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), disse que ainda vai analisar o texto
das medidas.
— Temos que avaliar
se as medidas são coerentes ou se são exageradas. Temos que ler os projetos —
disse Picciani.
Já o líder do PT na
Câmara, Sibá Machado (AC), qualificou de provocação o pacote de medidas. Para o
petista, Janot está dialogando com o PSDB.
— Esse projeto
dialoga com os tucanos. Isso aí é uma provocação — declarou.
Ele disse que não se
pode criminalizar o fato de os partidos receberem dinheiro por meios legais.
Mas viu na ação do Ministério Público uma iniciativa que não lhe cabe.
— Isso exorbita o
poder e fere a independência entre os poderes.
Sibá afirmou, no entanto,
que o PT está disposto a discutir o assunto.
— Ninguém vai matar
ideia alguma antes de discutir. Mas, do jeito que está, parece que tem como
objetivo atingir um partido apenas.
Investigado por
suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, o líder do PP na
Câmara, Eduardo da Fonte (PE) disse que seu partido dará apoio a todas que
tratem do combate à corrupção e tramitem no Congresso Nacional. O PP, Partido
Progressista, é o partido com maior número de parlamentares e políticos nas
lista dos que têm inquérito aberto do Supremo Tribunal Federal (STF) relativos
à operação Lava Jato. Ele disse que, em relação à proposta que prevê multa de
até 40% do fundo partidário e até cassação do registro do partido envolvido com
desvios de dinheiro público.
— Para tirar uma
posição sobre esse projeto, terei que ouvir a bancada, mas pessoalmente sou
favorável. Tem que ter comprovação do desvio, havendo comprovação de que o
partido fez isso, sim (cassar o registro). Agora, se for o parlamentar ou
membro da executiva, aí a pessoa é quem responde — disse Eduardo da Fonte,
acrescentando:
— Eu sempre fui a
favor da transparência como forma de combate à corrupção. Acho que passa sim (
no Congresso), é o momento da Casa dar um resposta à sociedade.
Sobre o fato de
estar respondendo a inquérito, Eduardo da Fonte disse que provará sua inocência
e não pode falar por recomendação de seu advogado.
O presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está na lista dos que têm inquérito aberto
no Supremo, disse que está em compromisso de viagem e não teve acesso aos
pontos do pacote e prefere não comentar.
O líder do PSDB na
Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), afirmou que não somente apoia a proposta
do Ministério Público, como também apresentou iniciativa no sentido de
extinguir partidos políticos quando ficar comprovado recebimento de dinheiro de
corrupção.
— Protocolei esse
projeto na quarta-feira, porque hoje só existe uma hipótese de extinção de
partido que é quando ele recebe dinheiro do exterior. No meu projeto, amplio
para que recebimento de dinheiro fruto de crime também cause a extinção do
partido. Eles me copiaram — brincou.
Sobre a ampliação da
pena máxima para corrupção de 12 para 25 anos de prisão, Sampaio disse
considerar uma “excelente iniciativa” e afirmou que, caso a medida já valesse
há algum tempo, os condenados no julgamento do mensalão não estariam soltos e
isso desencorajaria políticos a cometerem crimes semelhantes.
— Todo e qualquer
projeto que vise o aprimoramento do sistema penal sempre terá nosso apoio. Esse
de ampliar a pena é importante porque tem efeito inibitório, as pessoas vão
pensar duas vezes antes de praticar corrupção. Se as penas já fossem tal como
propõe o MP agora, certamente as pessoas condenadas no mensalão não estariam
soltas — disse.
O senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP) considerou positiva a iniciativa.
— Acho muito
positivo, porque ele tem experiência, Não são divagações ideológicas ou
filosóficas — disse Aloysio.
O presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), lembrou essa semana que a proposta que torna
a corrupção crime hediondo já foi aprovada no Senado e está parada na Câmara.
O líder do PR na
Câmara, deputado Maurício Quintella Lessa (AL) ressaltou que ainda não fui a
proposta do Ministério Público e que, tudo o que vier em benefício do combate à
corrupção terá o apoio do seu partido. Para o líder, no entanto, é preciso
cuidado quando se fala em penalização de pessoas jurídicas, no caso os
partidos.
— Não podemos
aceitar que uns paguem pelos erros de outros. Se a direção do partido fez caixa
2 ou desviou dinheiro público, muita gente embaixo pode não ter tido nenhuma
participação e não pode pagar por esse tipo de delito. Não pode ser
prejudicado, perder o mandato, por exemplo — disse o líder do PP
Quintella Lessa
afirmou que o direito penal brasileiro tem uma princípio básico que é o de que
a pena por um delito não pode passar da pessoa que o cometeu:
— Por isso, tenho
dúvidas sobre penalização de pessoas jurídicas. isso precisa ser bem analisado,
bem amarrado. A resposta á sociedade é importante, mas com critérios,
analisando bem e evitando deixar se levar por pressões. Isso poderia derivar em
outro tipo de delito ou injustiças.
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