Em crise, PT perdeu o
recato, o discurso e a rua
Josias de Souza
Quando estourou o
mensalão, o PT simulou desconforto. Chegou mesmo a encenar o expurgo do então
tesoureiro Delúbio Soares dos seus quadros. Hoje, no auge do petrolão, o
partido não consegue exibir nem mesmo um mal-estar fingido. Perdeu inteiramente
o recato.
Quando a cúpula do
PT foi parar na cadeia, o partido fez pose de vítima injustiçada. Hoje, com o
tesoureiro João Vaccari Neto denunciado pela Procuradoria e o mito José Dirceu
devolvido às manchetes policiais, a legenda finge-se de morta. O PT perdeu o
discurso.
No primeiro mandato
de Lula, quando a oposição ensaiou um coro de impeachment, o PT ameaçou
convulsionar o asfalto. Há uma semana, o meio-fio rosnou para o petismo e pediu
a saída de Dilma. O PT perdeu o monopólio da rua.
No comando do poder
federal desde 2003, o PT atravessa a mais grave crise de sua curta existência
de 35 anos. A legenda chega ao seu 5º Congresso, marcado para junho, de
ponta-cabeça.
Considerando-se a pauta do Congresso —da
“atualidade do socialismo petista” até “a economia política pós-neoliberal”— o
PT está perdido. Não é que o partido não tenha farejado uma solução para o seu
problema. Em verdade, o PT ainda não enxergou nem o problema.
O PT assiste à
hemorragia da recém-instalada segunda administração de Dilma Rousseff com a
passividade de quem se julga capaz de ressuscitar com Lula em 2018. Erro
primário. Sem Dilma, pode não haver Lula daqui a três anos e nove meses.
Pregoeiro do
“nós-contra-eles”, o PT testemunha o crescimento do “quase-todos-contra-nós”.
Acusa os adversários de estimularem o ódio contra o PT. Mas esquece de levar em
conta que o antipetismo é uma reação ao ódio destilado pelo PT.
O manual anticrise
do PT está com o prazo de validade vencido. Qualquer um que não reze pelo
catecismo da legenda é um lacaio da elite branca de olhos azuis. Mas a crise
moral e a ruína política que fazem a caveira do PT não carregam as digitais da
oposição. Com a imagem e as práticas estilhaçadas, o PT afunda sozinho.
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